Era o começo da década de 80, a revolução do 25 de Abril ainda era muito recente e na música apareciam coisas que fugiam ao que se estava habituado, que primavam pela rebeldia e pela originalidade e os Heróis do Mar não eram excepção. A diferença era que na originalidade deles, existia ao mesmo tempo uma lembrança dos tempos fascistas e nacionalistas, quem olhava não via distinção entre o que era apenas uma paixão pelo País em que viviam ou uma tentativa de relembrar os tempos pré revolução.
O nome da banda mostrava isso mesmo, era tirado do primeiro verso do hino Nacional e pretendia assim reforçar a paixão pelo País e pela sua história assim como os fatos que usavam, que lembrava a época dos conquistadores. A banda formou-se em 1980 e era constituída por Pedro Ayres Magalhães (voz), Paulo Pedro Gonçalves (guitarra), Zé Almeida (bateria), Carlos Maria Trindade (teclas) e Rui Pregal da Cunha (baixo e bandolim). Este último era o único estreante nestas andanças e com o passar do tempo assumiu-se como vocalista da banda também com o seu carisma e personalidade.
Com o seu primeiro álbum assumiam uma onda mais romântica, com o tema “Saudade” a ganhar destaque nas rádios, mas foi recebido com grandes críticas e insultos exagerados a acusá-los de Nacionalismo exacerbado a que a banda explicava como isso não tinha nada a ver com o objectivo deles. Foram tempos difíceis já que não podiam tocar em todo o lado, as terras mais “vermelhas” não os viam com bons olhos achando que estavam a cuspir na revolução. As suas actuações no pequeno ecrã eram míticas, o seu visual era arrojado e todos aqueles fatos misturavam coisas nacionais, Nipónicas e até Nórdicas.
Foi em 1984, com o single “Amor“, que a banda ganhou relevância e dominou os top’s nacionais alcançando a dupla Platina. Ao adoptar uma onda mais animada, o grupo ganhou ainda mais audiência quando foram escolhidos para a primeira parte dos concertos do Bryan Ferry no nosso País e em França depois de um ano onde dominaram as rádios com a música “Paixão“, que levou a imprensa Britânica a considerá-los a melhor banda a tocar rock na Europa.
Lembro-me que já na primária não havia quem não cantasse o tema de uma forma divertida e animada, em especial se alguém tivesse Paixão no nome, o que mostrava que a banda conseguia um público bastante abrangente. Nos anos seguintes continuaram a compor sucessos, “Só gosto de ti” e “Alegria” mostravam que a banda não era um mero acaso e estavam ali para durar.
O visual dele tinha sido alterado, mas mantinha-se mesmo assim arrojado para a época com calças de ganga rasgadas e muito cabedal. Mas com o aproximar da década de 90, os conflitos internos multiplicavam-se e mesmo após o álbum Macau ter sido muito bem recebido pela crítica, a banda chegou ao seu fim com os seus intervenientes a multiplicarem-se em projectos a solo ou relacionados com a música. A importância da banda é bem realçada no documentário Brava Dança de Jorge Pereirinha Pires e José Pinheiro que mostra como a história do grupo está ligado à própria história do 25 de Abril e de Portugal.
Continua a ser um dos meus grupos favoritos, e não tenho dúvidas que se algum dia se decidissem reunir para um concerto, os bilhetes esgotariam em três tempos. A sua última música foi o “Inventor” e conseguiram acabar em grande com uma letra que ainda hoje se mantém actual.
2 Comments
Gostava de Heróis do Mar! Gostava dos pormenores de amor ao país, coisa que desde 1974 só se vê nos jogos da selecção nacional de futebol…
A música deles estava um pouco à frente daquele tempo. Por isso no princípio foram um pouco incompreendidos…
🙂
Abraço
A música era mesmo boa