Eu adorava ver o canal Brasileiro GNT que apresentava uma programação variada, que ia desde a repetição de grandes clássicos da Globo, como O Bem Amado, a programas de sucesso que ainda não tinham sido transmitidas por cá, como o fantástico Sai de Baixo.
Sai de Baixo era uma Sitcom Brasileira transmitida ao Domingo pela hora do jantar, como no Brasil, e que mostrava a vida de uma família e a dos seus empregados num apartamento situado no Largo do Arouche. Vavá (Luis Gustavo) vivia sozinho no apartamento com a companhia apenas da sua empregada Edileuza (Claudia Gimenez) e a presença ocasional do namorado desta, o porteiro do prédio Ribamar (Tom Cavalcante).
Mas um dia recebe a visita de sua irmã Cassandra (Aracy Balabanian) que tem uma notícia bombástica. Aracy era uma viúva que vivia com a sua filha Magda (Marisa Orth), e o seu genro Caco Antibes (Miguel Falabella) numa luxuosa mansão, e aparece a pedir abrigo a Vavá, já que problemas com as finanças deixaram Caco na miséria e eles todos à beira de irem viver para debaixo de uma ponte. Para convencer o seu irmão, ela usa a carta sentimental e perante a oposição deste, puxa da situação legal já que ela também é herdeira daquele apartamento deixando assim Vavá sem remédio, a não ser aceitar todos no mesmo tecto.
A primeira temporada do programa é genial, com um excelente elenco em palco, que transmitia o texto de uma forma perfeita, muito devido à grande química entre os membros do elenco, com maior destaque nas contendas entre Caco e Edileuza, ou entre Caco e Cassandra. Foi por isso uma pena quando Cláudia Gimenez saiu do elenco (segundo rumores por conflitos com os roteiristas), em especial porque a primeira substituta não tinha muita piada e nem química nenhuma entre os diversos membros do elenco, e também porque Claudia e Falabella tinham grande sucesso nas suas discussões. Mas o trabalho de Luis Gustavo e Daniel Filho (os criadores do programa), voltou a conhecer o sucesso com o desempenho competente de Márcia cabrita como a nova empregada Neide Aparecida e logicamente a continuação de bons textos e bons diálogos.

Era interessante ver as diferentes personalidades destas personagens, Vavá era calmo, sereno e um pouco ingénuo, exactamente o oposto da sua irmã Cassandra, que era arrogante e impaciente em especial para com a criadagem. Isso gerava momentos engraçados com Edileuza que tinha uma personalidade forte, e que lhe respondia à letra deixando-a furiosa com isso, e com o namorado dela, Ribamar, que era uma pessoa simples que só queria se divertir e encarava as coisas de uma forma bem leviana.
As estrelas brilhavam no casal Caco e Magda. Ele, com a sua arrogância e ódio para com os pobres, que gerava gargalhadas sempre que começava um discurso enumerando os defeitos dessa classe, e ela porque não era muito inteligente e tinha frases que nos deixavam a chorar a rir com a imbecilidade do conteúdo proferido por ela. Outro dos atractivos de Caco era a sua tentativa de falar em Inglês, quase sempre de uma forma desajeitada, levando os outros membros do elenco a não conseguir segurar a risada. Esse era outro atractivo da série, por vezes eles desatavam a rir com atitudes dos seus colegas, ou com as frases do texto.
Foi no começo da década de 90 que Luis Gustavo e Daniel Filho idealizaram uma série de humor que fosse filmada num palco, num ambiente familiar e com o público presente na gravação ao vivo enquanto que era dada liberdade total aos seus actores. O programa durou sete temporadas, com 241 episódios filmados entre 31 de Março de 1996 e 31 de Março de 2002, sendo transmitida por cá pelo canal GNT no final da década de 90, e mais tarde repetida pela SIC nas suas madrugadas. A série era sempre filmada na sala do apartamento e somente em 2000 passou para um cenário diferente, o de um café, que foi rapidamente abandonado pela falta de empatia com o público e pelo declinar das audiências.

Tom Cavalcante era um dos actores que improvisava mais no palco, o seu tipo de humor brilhava nesses improvisos ou então quando tinha que encarnar outras personagens, levando ao extremo os clichés da figura que ele tentava interpretar perante a gargalhada geral. Infelizmente, também ele saiu do programa, a meio de 1999, em conflito com o director Denis Carvalho, deixando assim o programa com uma grande baixa a nível do talento humorístico em palco.
As últimas temporadas tiveram as adições do veterano actor Ary Fontoura, e de uma criança que fazia de filho de Caco e Magda, que entraram ocasionalmente e nunca conseguiram fazer esquecer os membros que tinham saído.
Adorava quando os membros interagiam com o público, quer o presente na gravação quer nós em casa, em especial nos momentos que eles iam mesmo para o meio das cadeiras e brincavam com o público presente. Outra coisa que gostava, era quando eles começavam a falar o texto do programa mas usando os seus nomes da vida real, ou com referências a características suas na vida real, e nisso Miguel Falabella e Tom Cavalcante eram exímios.
Os convidados especiais do programa também usavam esta arma, ou eram alvos disso, José Wilker e Lima Duarte foram bons exemplos de ocasiões do género, e também os meus convidados preferidos. No caso de Lima Duarte, fingiu-se que ele tinha ficado chateado quando um dos membros do elenco entusiasmou-se e atirou água para cima dele obrigando ele a abandonar a personagem e começando a reclamar com todos em palco falando que não tem idade para essas coisas. Tudo muito bem feito.
As frases de Magda corriam a Internet, com o pessoal a enviar e-mails com a compilação das frases mais divertidas, e o chavão “odeio pobre” tornou-se comum mesmo em Portugal. O à vontade do elenco em brincar com eles mesmos ou com o cenário, era usual a brincadeira de “saírem” para o Quarto ou outras divisões que na verdade eram apenas os bastidores do palco, tornava o programa mais familiar e o público conseguia identificar-se com as brincadeiras deles. É uma série que deixa saudades pelo seu bom humor, pelo seu excelente elenco e por ser bastante divertida, daquelas que merecia uma edição completa em dvd.
Eis algumas frases da Magda:
– Eu não acredito no que os meus ouvidos vêem.
– Eu pretendo sumir da alface da terra!
– Me segura que eu vou desmamar…
– Eu quero o divórcio. Não, divórcio não porque é muito pouco, eu quero o trivórcio!
– Em briga de marido e colher não se mete na mulher.
– Deus escreve esperto por lindas portas.
– Nós nos casamos com um caminhão de bens.
2 Comments
Juntas essa ao Contra Informação e o 3º Calhau a contar do Sol, e terias um fim de noite memorável todos os dias. Ir para a cama com um largo sorriso nos lábios. Tenho a certeza que o pessoal dormiria muito melhor!
😀
Abraço
Epa é daqueles combo brutais 😀 ainda metia aí o That 70's show lol