Os anos 80 foram férteis em desenhos animados que nos marcaram para sempre, e um dos mais carismáticos dessa década foi sem sombra de dúvida o que mostrava as aventuras de He-Man and the Masters of the Universe. Foi mais um daqueles desenhos animados acompanhado por uma panóplia de merchandising que deixava uma criança a salivar e um pai a desesperar, ele eram cromos, ele eram bonecos, ele eram espadas, havia de tudo um pouco para agradar gregos e troianos.
Um dos meus maiores traumas é não ter tido nenhum boneco do He-Man (nem o seu mítico castelo), e por isso tinha que me contentar com aqueles que saíam nos bolos da Panrico. Mas tive uma espada do He-Man, uma fajuta de plástico amarelo fluorescente que muito me ajudou em aventuras imaginárias. Para além disso tive alguns livros de BD da editora Abril, mas a minha coisa preferida era sem sombra de dúvida a caderneta do He-Man, uma caderneta que impunha respeito logo com uma capa imponente e com um interior fantástico de onde se destacava umas páginas do meio, onde estava desenhada uma situação de combate em Eternia, e os cromos eram “recortados” com a figura somente da personagem num movimento de ataque ou de defesa.

A linha de brinquedos foi um dos maiores sucessos do começo da década de 80, e em 1983 foi natural a transição para a TV numa série de Desenhos Animados produzida pela Filmation e com autoria de, entre outros, Lou Scheimer que durou duas temporadas num total de 130 episódios.
A série mostrava-nos como o reinado do rei Randor era ameaçado pelo maléfico Skeletor, que acompanhado por um grupo de asseclas mutantes aterrorizava o planeta Eternia. A sua intenção era a de conquistar o castelo Grayskull, que tinha a protecção da Zoar, que ajudou também o príncipe Adam a conseguir os poderes de He-Man.
Era mais um daqueles desenhos animados acompanhados com uma moral no final do episódio (algo que detestava), e as suas cenas de acção nunca eram muito intensas, mas chegavam para entusiasmar qualquer criança daquela década. O melhor do programa sempre foi o visual de algumas personagens, o do castelo e alguma da mitologia que podia ter sido muito mais bem explorada. Outro aspecto negativo, era o típico sidekick cómico que só atrapalhava as aventuras do nosso herói e que tentava aligeirar as coisas com piadas ou frases inoportunas. Aquele castelo com uma entrada em forma de uma cara com umas presas grandes, e o tigre que em modo de combate ficava de uma forma imponente e agressiva eram as minhas coisas preferidas da série e das que mais ansiava ver.
Mas o vilão é que roubava a cena toda, adorava aquele visual de uma caveira que logicamente era um pouco aterrorizante para uma criança, o que ajudava ainda mais a quereremos que ele perdesse a batalha com o He-Man. Uma pena que a série fosse um pouco “presa” de movimento, era sempre algo mecânico os movimentos das personagens e com o famoso método de cenas repetidas que a Filmation tanto gostava.
Lembro-me de ver isto quando deu na RTP, em 1986, na sua versão original e legendada em Português aos Sábados pela hora de almoço e muitas vezes acompanhado pelo meu vizinho, já que este era um daqueles programas ideais para vibrar em conjunto com alguém. O sucesso do desenho animado foi tanto que até um filme foi feito, algo bastante mau mesmo para os padrões da altura, e durante os anos seguintes foram feitas novas versões da personagem que nunca conseguiram obter o sucesso da série original.
É mais um daqueles desenhos animados épicos que nos marcam para sempre, e até hoje bate a vontade de agarrar numa espada, levantá-la no ar e gritar “I have the power!”

4 Comments
Concordo com practicamente tudo o que descreves, desde o não ter de um boneco He-Man e só ter dos panrico (com os quais fiz jogos e brincadeiras muito catitas), passando pelo irritante Orko, e com o visual tétrico da coisa. Já quanto ao Skeletor, eu até apreciava os planos do tipo e fazia-me espécie que o He-Man ganhasse sempre só porque tinha mais força e aviava uns socos nos maus. O Skeletor devia ter tido algumas vitórias. Num dos episódios ("The evil seed" se não estou enganado) ele é necessário para uma aliança contra a terrível ameaça e tem oportunidade de entrar no Castelo de Greyskull. Ah, como eu gostei de sse episódio! Até porque quase nunca se viu o interior do castelo.
Completei a caderneta e muita espada fiz, uma ou outra com algum rigor.
O genérico é lendário, ainda hoje recordo cada uma das falas, mas a série não envelheceu bem. Pode ver-se por nostalgia e tal, mas as histórias são muito rudimentares e chatas. Fiquemos pelo genérico, e que épico genérico.
É verdade, envelheceu muito mal mesmo, comparando então com as outras como Thundercats ou GI Joe. Epa a caderneta completa deve ser linda 😀 Aqueles cromos recortados eram um must mesmo.
Os bonecos dos bolos davam tanta ou mais alegria que se fossem os reais.
E não esquecer do filme, que também por mau que seja para muita gente, continuo a achar que fizeram o que puderam naquele tempo. A animação é clássica da Filmation que dava mais importância à quantidade que qualidade e usando a "limited animation" que dá aquele aspecto. E no fundo é um "kid show/toy commercial" de 20m, em que se podia ver um episódio sem seguir a série e não havia a preocupação de ter um começo, meio e fim.
Acerca dos bonecos, eu tive vários, assim como He-Man, o tigre e dois ainda do filme. Mas não consegui ter o Castelo por mais que pedisse aos meus pais pelo Natal e aniversário.
Mesmo para a altura o filme é mau 😀 e eu gostei de muita coisa da Filmation mesmo com esses truques 😀