O começo da década de 90 foi entusiasmante para o adepto do Sporting Clube de Portugal, ano após ano víamos melhorias significativas no plantel, e de 1992 a 1995 acreditámos verdadeiramente que podíamos ser campeões. No liceu nunca a expressão “este ano é que é” era usada com tanta fé, algo que o presidente Sousa Cintra gostava de alimentar, mas que parecia mesmo que podia ser verdade naquelas épocas.
O verão quente de 93 alimentou a esperança do adepto leonino, Sousa Cintra aproveitava a crise do velho rival e ia roubar então Paulo Sousa e Pacheco, falhando apenas na contratação do menino de ouro João Pinto (que iria ser algo fatal no trajecto da equipa). Contratando jogadores como o internacional Croata Vujacic (para colmatar a saída do central Barny apesar de Robson não o ter pedido), e os Guarda Redes do Boavista, Costinha e Lemajic (para o lugar do mítico Ivkovic que tinha saído no final da época anterior), Cintra exigia assim a Bobby Robson a conquista do título que escapava à equipa há mais de uma década. Afinal a estrutura da equipa mantinha-se e nela estavam nomes como Balakov, Cherbakov, Cadete, Valckx e Juskowiak que justificavam um pedido destes por parte do presidente do clube.
A equipa continuava a jogar um bom futebol, atractivo e ao primeiro toque, enquanto que a simpatia do treinador Inglês conquistava tudo e todos com o seu discurso atabalhoado misturando as duas línguas, e mostrando que uma equipa jovem podia dar uma luta feroz em todas as frentes que o clube estivesse. Mas depois de um bom começo de época, bastou a chegada do famigerado Natal (época festiva nada apreciada pelo clube) e as derrotas no campeonato (uma frente ao Porto e outra frente ao Boavista), para além da eliminação da Taça Uefa para trocar o Inglês pelo Professor Carlos Queirós (sonho antigo do Presidente) e que já tinha treinado muitos dos jovens que constituíam o plantel do Sporting.

1993-1994
Nélson, Paulo Sousa, Paulo Torres, Figo, Valckx, Peixe, Balakov,
Cadete, Capucho, Pacheco, Juskowiak, Lemajic (GR), Costinha (GR),
Poejo, Vujacic, Iordanov, Carlos Jorge, Cherbakov, Marinho, Porfirio,
Leal, Filipe, Amaral, Paulo Tomás, Renato
Queirós encontrou uma equipa no 1º lugar do campeonato (empatada com os outros dois grandes), mas em queda anímica que piorava com a troca de treinador, já que o Inglês era muito querido tanto pelos adeptos como pelos jogadores. Aliás isso deu origem a uma tragédia que ensombrou a equipa, o acidente de carro de Cherbakov que vinha do jantar de despedida do seu ex-treinador e que o atirou para uma cadeira de rodas. acabando assim com um jogador muito promissor.
Ele estreou-se a vencer contra o Beira Mar, mas perdeu de seguida contra o Benfica na Luz e empatou as duas partidas seguintes, deixando a equipa e os adeptos um pouco frustrados devido a termos tido um bom início de campeonato que começava assim a ficar em risco para nós. Mas Carlos Queirós também percebia de futebol e conseguiu com que a equipa começasse a jogar um bom futebol, atractivo e de qualidade que levou a termos sete vitórias consecutivas e a começarmos a ser um incómodo para os líderes do campeonato e a levar a entrar em acção as arbitragens manhosas que nos impediam de ir mais além.
Tudo começou contra o União da Madeira, num jogo que terminou empatado a zero e com o Sporting reduzido a oito unidades e situações como aquela em que um jogador do União evita um golo com a mão apesar de não ser guarda redes. Os resultados continuavam a aparecer e a equipa ficava então no 1º lugar empatado com o Benfica e a com 4 pontos de avanço sobre o Porto.
Por isso não foi de estranhar que no jogo das Antas, Fernando Couto e Paulinho Santos tivessem carta branca para agredir e provocar os outros jogadores, e que conseguiram a expulsão de Juskowiak, Peixe e Vujacic, criando assim baixas na equipa para o derby Lisboeta que se avizinhava. A derrota nas Antas por 2-0 deixou a equipa a um ponto do Benfica, e esse jogo seria então decisivo para o campeonato. Na Luz a equipa entrou bem e esteve por duas vezes a ganhar o jogo, mas uma má decisão do Professor (que tirou Paulo Torres e deixou uma clareira naquela ala) aliada a uma grande exibição do João Pinto levou a uma goleada histórica onde o Benfica vence por 3-6 e parte assim rumo à conquista do campeonato.
A equipa descontrolou-se e perdeu logo a seguir na Madeira, acabando em 3º lugar com 51 pontos, a 3 do Campeão, que correspondiam a 23 vitórias, 5 empates, 6 derrotas, 71 golos marcados e 29 sofridos. Na Taça de Portugal a equipa chegou à Final, onde perdeu numa finalíssima (ou seja num segundo encontro) com o FC Porto, que era agora treinado por Bobby Robson, acabando assim mais uma época sem nenhuma conquista, apesar de se poder queixar mais uma vez de alguma perseguição por parte dos árbitros e não só. Convém lembrar que nessa época não deu para contratar Carlos Xavier, Oceano e Yekini devido a um problema com a Ovarense que reclamava pagamentos na contratação de Luis Manuel, e que a Federação tomou partido impedindo assim o clube Leonino de contratar jogadores.
Carlos Queirós é mantido no comando da equipa, e vê o afastamento de alguns jogadores (alguns devido a incompatibilidades com o Professor) colmatado com contratações de qualidade como Oceano, Carlos Xavier, Amuneke, Pedrosa, Sá Pinto, Marco Aurélio, Luís Vasco, Chiquinho Conde e Naybet.

1994-1995
Nélson, Figo, Sá Pinto, Vujacic, Balakov, Costinha, Marco Aurélio,
Naybet, Oceano, Juskowiak, Chiquinho Conde, Peixe, Amunike,
Carlos Xavier, Filipe, Iordanov, Capucho, Nuno Valente, Lemajic (GR),
Valckx, Paulo Torres, Dani, Cadete, Pacheco, Pedrosa, Marinho, Varão
Tr: Carlos Queiroz

O jogo decisivo foi em Alvalade, e mesmo após uma tragédia onde a queda de um varandim provocou a morte de 2 adeptos, o jogo decorreu e acabou com uma derrota por 1-0 permitindo assim a vingança do Inglês sobre Sousa Cintra e Carlos Queirós. Mas para variar houve as famosas histórias que visavam sempre prejudicar o clube Leonino, sendo a maior aquela que levou a que o jogo que acabou com uma vitória de 1-2 do Sporting sobre o Benfica na Luz fosse anulado e repetido, isto porque Caniggia havia sido expulso “injustamente” e na repetição o Benfica venceu por 2-0 naquele que viria a ser um jogo fantasma, já que a vergonha desta decisão foi tão grande que levou à intervenção da FIFA que anulou este segundo jogo.
O Sporting terminou em 2º lugar, o que já não acontecia há dez anos, com 55 pontos, a 7 do Campeão, que correspondiam a 23 vitórias, 9 empates, 2 derrotas, 59 golos marcados e 21 sofridos. Neste caso venceu-se a Taça de Portugal numa vitória sobre o Marítimo por 2-0 com 2 golos de Iordanov, num jogo em que Sousa Cintra participou da festa apesar de já não ser o presidente do clube fazia já uma semana.
Foi o campeonato que mais me custou, tanto pela qualidade do plantel como por ter sido uma das melhores oportunidades nos Dezoito anos do nosso jejum para ganharmos com alguma qualidade e justiça. O Professor nunca foi bem aceite pelos adeptos, e a sua personalidade conflituosa com alguns jogadores não ajudaram a que ele tivesse mais sucesso no clube. Ainda começou a temporada seguinte, mas rapidamente ficou claro que não tinha condições e foi afastado logo no começo.
3 Comments
O Professor nunca será um bom treinador, porque não é um bom condutor de homens. Tem sido sempre assim em todas as equipas… será talvez o melhor adjunto do mundo, agora um trinador para além de perceber de futebol tem de ser um comandante respeitado pelos seus jogadores. Ora isto nunca acontece nas equipas em que ele é o treinador principal.
Aliás… viu-se a confusão que foi a selecção!
Errado. Na temporada 1995/96, Queiroz esteve no Sporting até à 23ª jornada (empate na Luz a zero com o Benfica), sendo despedido durante a semana seguinte devido a uma entrevista que deu a um canal de tv onde criticava a Direção de Santana Lopes, a qual lhe tinha dado um voto de confiança poucas semanas antes e nas palavras do próprio ""Queiroz é o meu treinador nem que perca os jogos todos".
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