Ainda sou do tempo em que se levava reguadas na escola, e eu levei bastantes, devido a ter o chamado “bicho carpinteiro” e não parar quieto. Um método polémico, mas também um apoiado por muitos pais, que achavam que essa era a melhor forma de impor disciplina numa criança.
Na minha escola Primária, a nº 6 do Bairro São José, tive sempre a mesma professora da 1ª à 4ª classe, a Senhora Flora. Era uma mulher alta, loura e com um ar meio british, e até tinha bastante paciência, mas uma criança hiperactiva como eu conseguia levar à loucura a mais calma das pessoas. Eu não era de todo mau aluno, excepto em Matemática, e lembro-me que quando havia composições, fazia sempre sucesso com as histórias mirabolantes que imaginava. Lembro-me que aprendi a ler muito cedo, mais cedo que muitos dos meus colegas, porque queria ler o que estava nos livros do “Tio Patinhas“, mas isso tudo era por vezes eclipsado com o meu comportamento irrequieto.
Eu falava com o colega do lado, o de trás ou o da frente, eu punha-me a balouçar na cadeira por mais que a professora mandasse parar e eu mentia, eu mentia muito. Por vezes a única solução que a desgraçada tinha para isto tudo era dar-me umas reguadas, sim ela pouco ou nada dava aos outros, era quase sempre eu o contemplado com este método de “ensino”. Mal via ela agarrar na régua de madeira, já sabia que estava em problemas.
Resultava? Por vezes, a dor era muito intensa, a mão a arder era das piores coisas que se podia sentir (em especial se estivesse frio). Mas isto começou a ser inútil comigo, especialmente porque tinha (e tenho) um feitio muito especial, que é o de não dar o braço a torcer e irritar a outra pessoa. Então por mais vermelha que a mulher ficasse, por mais que bufasse e gritasse, eu permanecia impávido e até bocejava por vezes (só depois de algum treino confesso), muitas partiram-se na minha mão ou então comecei a arranjar pequenos truques.
Besuntar a mão com Azeite ou Manteiga era dos meus preferidos, a régua delizava por ali e não havia cá nada para ninguém. A dona Flora não vai em cantigas e trouxe uma régua especial, bem grossa com uns 5 centímetros de espessura ou parecia-me isso…
Lembro-me perfeitamente do dia que essa se partiu nas minhas mãos, tal a fúria dela (não me recordo do que fiz mas deve ter sido do piorio) e das lágrimas dela por a ter feito ter que partir aquilo e o medo que estivesse magoado. Custou-me muito mais que as reguadas e pedi desculpa e tentei a partir daí melhorar o meu comportamento.
Continuei rebelde e irrequieto, mas bastava um ou dois avisos e parava logo para que não passássemos por aquilo de novo. Era um castigo por isso não muito eficaz, e um pouco cruel, mas na generalidade penso que não era tão mau como às vezes o pintam. Como em tudo, o pior está na pessoa que aplica o castigo, e isso que o pode tornar pouco ou muito cruel.
2 Comments
Eu sou mais do tempo de levar com o sapato de salto alto e com o livro da turma!
Na minha escola circulava uma história/mito(?), de que um cigano fez com que a régua se partisse por ter posto pelo de burro na mão, no momento do castigo. 😀