Quando a Chuva na Areia foi para o ar, tinha eu uns 7 anos de idade e já olhei com um pouco mais de atenção para o que estava a acontecer ali na minha Televisão a preto e branco, acabando por isso por ser a minha primeira telenovela Portuguesa.
Olhei para esta novela com algum espanto, já ligava mais ou menos a este tipo de programas, mas pensava que estas só existiam com sotaque Brasileiro e por isso achei estranho ver ali alguns actores conhecidos e com um sotaque bem Português. Chuva na Areia estreou com pompa e circunstância no dia 7 de Janeiro de 1985, em pleno horário nobre da RTP e sucedendo a duas grandes novelas Brasileiras, (O Bem Amado e Guerra dos Sexos) sendo por isso esperada com alguma expectativa pelo público nacional.
O programa foi referido algumas vezes como Tele-romance e não como telenovela, muito por se basear num romance chamado “Agarra o Verão Guida, agarra o verão” do autor Luís de Sttau Monteiro, autor de obras como “Felizmente ao Luar“. A imprensa dedicava artigos a esta obra que foi inteiramente produzida pela RTP, sem recurso a nenhuma outra produtora, numa cidade-estúdio construída em Tróia numa aposta como nunca se tinha visto por cá.
Foram 84 episódios intensos, que pude rever recentemente na RTP Memória e analisar assim de outra forma a terceira telenovela Portuguesa. Há alguns defeitos, óbvios de uma indústria ainda a dar os seus primeiros passos por cá, mas nada que estragasse muito o ritmo da coisa e até dava outro encanto, como o calão usado pelos personagens da história e que chegou a chocar os telespectadores, nada habituados a este tipo de coisas no pequeno ecrã.
Caniço foi a personagem que se destacou na trama, tanto por esse calão como pela brilhante interpretação de Nuno Melo que culminou numa cena mítica com ele a “auto-capar-se”, cortando o seu próprio sexo e indo para a praia em sangue depois de não aguentar mais a relação que mantinha com o turista Alemão interpretado por Carlos Wallenstein. Aliás existia uma franca abordagem a temas sexuais (nada comum no nosso País na altura), chegando até a haver cenas em Topless numa praia.
Ambientada na vila piscatória Vila Nova da Galé durante a década de 60, foi a primeira novela de época e abordou alguns temas fortes como as novas lojas que se abriam (como os supermercados modernos) e a PIDE. José Viana esteve bem como proprietário da Pensão onde se passava algumas cenas da trama, assim como Rui Luís, brilhante no papel do cobarde dono de Taberna que acaba por se revoltar contra tudo aquilo que se passava ali nas suas barbas.
Um dos temas principais da história centra-se na passagem de dois turistas Alemães que em conluio com a personagem de Henrique Viana, tentam comprar várias terras naquela vila para construir coisas mais modernas e sofisticadas. Dona Odete (Alina Vaz) referia constantemente como estava farta de viver “Nesta merda de terra”, querendo-se sempre armar mais em fina para os seus amigos ricos que curiosamente amavam passar as suas férias ali e não queriam nenhuma mudança.
Contrabandistas, Tursitas, Pide, Polícia e comerciantes de bairro, eram estes os ingredientes desta história que se vê bem apesar de pecar em muita coisa que se deve relevar devido ao amadorismo ainda presente na nossa indústria televisiva da altura, para além da falta de experiência de alguns actores para representar na Televisão.

Algumas imagens e curiosidades retiradas do Brinca Brincando.