Existiam aquelas séries que quando éramos miúdos dávamos uma olhadela, gostávamos do que víamos mas não seguíamos por ser muito adulta ou nem percebermos muito o que se passava ali. A Balada de Hill Street foi uma dessas séries para mim, e quando a pude ver com outros olhos (já adulto) comprovei que realmente valia a pena e foi um dos melhores programas que deu na TV.
A produtora MTM contratou os escritores Steven Boccho e Michael Kozoll que escreveram a série para a NBC, tendo sido transmitida 7 temporadas entre 1981 e 1987 num total de 144 episódios. Por cá a RTP transmitiu a mesma em pleno horário nobre e no Brasil foi transmitido com o nome de Chumbo Grosso. Uma série altamente premiada e elogiada pela crítica, recebendo 8 Emmys na sua primeira temporada, um recorde só batido por West Wing anos mais tarde.
A Balada de Hill Street (Hill Street Blues) abordava o dia a dia de uma Esquadra numa das zonas mais complicadas da cidade, abordando os conflitos profissionais e pessoais de quem trabalhava junto lado a lado numa das profissões mais complicadas de sempre, numa série de histórias que se uniam no final do episódio ou no final de um arco que durava vários episódios. Nas primeiras temporadas duas coisas eram comuns na série, no começo de cada episódio era mostrado o “Roll Call”, uma chamada ao serviço onde o Sargento explicava os pontos mais importantes do seu dia de trabalho, e no final de cada episódio tínhamos o Capitão Furillo e a promotora pública Davenport a discutir o seu dia de trabalho numa situação doméstica normal (normalmente na cama antes de dormirem).

A série vivia dos seus carismáticos personagens, para além de nos mostrar situações sociais e reais de uma forma sóbria e utilizando linguagem simples e urbana, por vezes até abusando do “calão” e da “gíria” para percebermos as situações todas das gangues e do crime naquela cidade. E foi mais uma daquelas séries que tinha um genérico fantástico que nos fazia logo ficar excitados ainda antes do episódio começar a sério (por norma o roll call era antes disso).
Muitos adoravam o Detective Belker (Bruce Weltz) que estava quase sempre em missões à paisana e vestido quase como um mendigo e com a barba por fazer. Para além disso fervia em pouca água e adorava morder como um cão os suspeitos que não cooperavam muito com a polícia. Outros gostavam do calmo e sereno Sargento Esterhaus (Michael Conrad) que dirigia a chamada (roll call) pela manhã e que era visto como todos como o “pai/avô”, aquele que transmitia a calma e tinha os conselhos que necessitavam. A morte do actor que o representava levou à substituição (óbvia) da personagem na série.
O Capitão Frank Furillo (Daniel J. Travanti) era a pessoa que comandava este grupo de profissionais, um homem honesto e com bom senso para as decisões complicadas que por vezes tinha que tomar. Tinha que aturar a sua ex-mulher, Fay Furillo (Barbara Bosson) que aparecia constantemente para o chatear e o Chefe Fletcher Daniels (Jon Cypher) que não concordava com muitas da suas opiniões, mas acabava por respeitar as convicções de Furillo. A promotora pública Joyce Davenport (Veronica Hamel) era chamada constantemente à esquadra e tinha algumas divergências com alguns dos seus polícias pela forma como tratavam os suspeitos, e isso complicava também a relação amorosa que mantinha com Furillo.
Mas eram muitas as personagens para gostarmos nesta série, tínhamos a dupla polícia negro-polícia branco que eram Bobby Hill (Michael Warren) e Andy Renko (Charles Haid) que se metiam constantemente em sarilhos, o louco por armas Howard Hunter (James B. Sikking) que comandava a SWAT ou o super calmo negociador Henry Goldblume (Joe Spano) que tentava sempre acalmar as coisas e encarava a vida de forma mais serena. Tínhamos ainda também a mulher polícia, Lucille Bates (Betty Thomas) que tentava sobreviver numa esquadra dominada por homens ou o tenente latino Ray Calletano (Rene Enriquez) que servia basicamente como intérprete ou “arma” para acalmar os suspeitos latinos, entre tantas outras personagens.
Incrível como conseguíamos nos preocupar com todos estes elementos, percebermos os seus problemas, as suas nuances e como as resolviam. Esse era um dos maiores feitos da série, e os casos apresentados eram quase sempre interessantes, umas vezes dramáticos, outros mais cómicos e por vezes com tiroteios e muita acção à mistura. Uma das melhores séries de todos os tempos e um must see para os fãs de séries policiais.