Com o fim do feriado no dia 1 de Novembro, e a cada vez maior adesão ao Halloween Americano, a tradição do Pão por Deus sofreu duros golpes nestes últimos anos, tendo sido praticamente abolido das ruas Portuguesas.
No meu tempo também já não se seguia tudo o que esta tradição impunha, não havia cá versos no acto de pedir e nem da parte de quem nos entregava coisas (talvez em áreas mais rurais isso ainda se realizasse nos anos 80), era apenas o ir de porta em porta pedir o Pão por Deus, e receber coisas em troca. Por norma eram pequenos doces, rebuçados, chocolates, castanhas (assadas ou cruas) e quando tínhamos sorte algum dinheiro. Por norma moedas, mas volta e meia vinha uma nota (em especial de alguém da família), o que nos fazia sentir super contentes pela caminha ter valido a pena.
Era um grupo de amigos, numeroso ou não, que se fazia à estrada em procura dessas oferendas, cheguei a ir só eu e o meu vizinho, ou irmos uns 5 ou 6 juntos. Tinha que se acordar cedo, para tentar ir ás casas primeiro que os outros grupos e assim conseguir coisas melhores nos nossos sacos, era por isso e também para não os apanhar chateados por ter tantas crianças a baterem à porta. Depois íamos para casa de algum amigo (ou a nossa), e sentava-mo-nos no chão a apreciar o espólio obtido, contar quantas moedas tínhamos recebido e os doces que tínhamos conseguido nessa viagem.
Por norma ficávamos pelas ruas perto da nossa, nunca íamos muito para “fora de pé”, mas ainda andávamos bastante, afinal a quantas mais casas fossemos, mais coisas conseguíamos.
Este costume tem um fundo religioso, associado ao facto de ser o dia dos defuntos e de se oferecer pão, vinho e outras oferendas aos mortos noutros tempos.
*Momento Wikipedia*
São vários os versos para pedir o pão-por-deus:
“ Ó tia, dá Pão-por-Deus?
Se o não tem Dê-lho Deus!”
Ou então:
“ Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus.”
Como não é muito aceitável rejeitar o bolinho às crianças, as desculpas eram criativas:
“ Olha foram-me os ratos ao pote e não me deixaram farelo nem farelote ” *Momento Wikipedia*
Por norma fazíamos isto até aos 12 anos mais ou menos, altura em que tanto íamos deixando de achar piada à coisa, como também não parecia tão bem o ir de porta em porta pedir coisas. Em todo o caso era um costume engraçado e do qual gostava muito, será que este ano ainda se fez em algumas terras do nosso Portugal?