Foi a 12 de Agosto de 1984 que Carlos Lopes conquistou a primeira medalha de Ouro Olímpico para Portugal, fazendo os Portugueses que ficaram acordados de madrugada para ver a sua corrida vibrarem de alegria. O atleta do Sporting fez história e abriu caminho para uma fase de ouro no atletismo nacional.
Carlos Alberto de Sousa Lopes nasceu a 18 de Fevereiro de 1947 em Vildemoinhos, crescendo numa família modesta onde começou a trabalhar muito cedo, e foi numa corrida casual com um grupo de amigos (que já praticava atletismo) que ganhou o gosto pela coisa, entrando na sua primeira prova oficial (uma São Silvestre) aos 16 anos de idade. Começou a participar em provas internacionais aos 17 anos, sendo o melhor Português no Cross das Nações em Marrocos.
O Sporting Clube de Portugal ficou atento ao potencial deste atleta e em 1967 acolheu-o na sua equipa, entrando numa era de semi-profissionalismo (onde tinha até dispensa do seu trabalho) e sendo treinado pelo grande Moniz Pereira. Em 1976 ganhou o campeonato do mundo de corta-mato no País de Gales, sendo por isso natural que fosse escolhido como porta-bandeira da representação Portuguesa nos Jogos Olímpicos em Montreal nesse mesmo ano.

Aí conseguiu a medalha de prata, a primeira de Portugal em muitos anos e a primeira no atletismo. Com a conquista de outra medalha de ouro no campeonato do mundo de corta-mato em 1984, as esperanças que os Portugueses depositavam nele para os JO que se iam disputar em Los Angels nesse ano. Esperanças essas que sofreram um rude golpe quando o atleta foi atropelado 16 dias antes da prova (curiosamente por um candidato à presidência do seu clube, comandante da TAP na altura), mas a recuperação foi rápida e total, tendo partido com a comitiva Portuguesa rumo a esta grande prova.
Lopes era considerado um dos favoritos, e só não era o principal porque nunca foi um verdadeiro maratonista, e a idade já pesava um pouco. Depois do boicote aos jogos de Moscovo, esta era a sua última oportunidade, e ele aproveitou-a bem com o apoio da Nike e com um treino que o fez chegar em primeiro às sete da tarde do dia 12 de Agosto (3 da manhã por cá) e ainda conseguir dar voltas à pista enquanto os outros caíam desfalecidos com o cansaço.
A marca de 2 horas 9 minutos e 21 segundos foi recorde até aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, mostrando que realmente foi uma prova soberba do atleta do Sporting, que continuou sempre activo no clube e ainda venceu mais um campeonato do mundo de corta mato em 1985. Esteve sempre por perto do clube do coração, sendo nomeado em 2013 director do departamento de atletismo.
Lembro-me bem da euforia que foi a vitória de Carlos Lopes, das pessoas estarem genuinamente contentes e do destaque dado em toda a imprensa, numa altura em que se dava tanta importância a um desporto qualquer como se dava ao futebol.