Cambalacho foi mais uma bela trama de Sílvio de Abreu, que tornou a palavra parte do vocabulário popular tanto no Brasil como em Portugal. Uma novela das sete bem divertida e com uma forte crítica social e política, com o autor a aproveitar o facto de ser a sua primeira história sem a presença da censura.
Sílvio de Abreu escreveu a história que iria substituir a novela Ti Ti Ti no horário das sete da Rede Globo, O autor aproveitou a oportunidade de não ter a censura e já não estar sobre uma ditadura militar para criticar alguns valores ainda presentes na sociedade Brasileira e colocar inclusive dois anti heróis, dois vigaristas com bastante destaque na trama.
A Novela Cambalacho esteve no ar entre 10 de Março e 3 de Outubro de 1986, teve uma boa aceitação por parte do público que se apaixonou pelo bom humor e divertimento presente na história. Em Portugal foi transmitido pela RTP pouco tempo depois no célebre espaço de novelas à hora de almoço, tornando-se também uma das preferidas do público Português, que adoptou (assim como o brasileiro) o termo Cambalacho e o usou para definir tramóias ou trapaças.
Jorge Fernando dirigiu a novela, e soube conciliar a forte crítica de Sílvio de Abreu à condição “vergonhosa” (segundo ele) que o Brasil vivia, criticando o comportamento condescendente de pessoas em altas instâncias com os subornos e as vigarices praticadas. Para isso colocou dois “trambiqueiros” em grande destaque, Fernanda Montenegro interpretou Naná e Gianfrancesco Guarnieri era Jejê.
Estes dois actores em conjunto com Natália do Vale, fizeram alguns dos melhores momentos da novela que contou ainda com um núcleo divertido de Mãe e Filha que eram protagonizados por Consuelo Leandro (Lili Bolero), que se queixava de ter sido roubada por Ângela Maria que tinha a carreira musical que era destinada a ela.
Já Regina Casé era Tina Pepper uma fã enorme de Tina Turner que estava constantemente a imitar ela e a colocar grandes perucas na cabeça.

O par romântico da história fugia um pouco ao habitual também, Edson Celulari era Thiago, um bailarino apaixonado por Ana Machadão (Débora Bloch) que era uma mecânica de automóveis. Uma inversão nas profissões e aproveitando assim para abordar o preconceito que acontece nessas inversões de papéis entre elementos do sexo Masculino e Feminino.
A novela sofreu com as mudanças que o governo de José Sarney implementava no Brasil, em especial com a entrada do Plano Cruzado e desta nova moeda, que complicou todas as cenas que envolviam ainda a moeda antiga Cruzeiro, forçando a que optassem por colocar a conversão de valores no ecrã.
Ambientada em São Paulo, a cidade fazia tanto parte da história que era quase como uma personagem, no final pudemos ver uma imensidão de bailarinos pelas ruas da cidade e quando a cena foi filmada de um helicóptero, pudemos ver que formavam a palavra Cambalacho em plena metrópole Brasileira.
Uma novela divertida e interessante, uma trama que merecia até um remake aproveitando a onda actual que a Globo tem optado em adaptações de algumas das suas novelas mais emblemáticas.