Mais um bom texto do Paulo Costa, desta vez a recordar-se de um mítico carro que simboliza bem algumas coisas dos anos 80, o Lamborghini Countach. Com a sua paixão (e conhecimento) automobilística, vai-nos dar a conhecer um pouco mais da história desta grande marca e deste modelo em particular.
Se havia um póster de um automóvel no quarto de uma criança dos anos 80, esse carro era um Lamborghini Countach. Mesmo que essa criança não ligasse nenhuma a automóveis, mesmo até que não soubesse o nome dele, era garantido que o Countach era o carro que o iria fazer virar a cabeça. Para os fãs, o Lamborghini Countach cimentou a imagem definitiva da Lamborghini como marca construtora de automóveis com uma personalidade inimitável.
Ferruccio Lamborghini era um industrial de renome nos anos 50, com destaque para a marca de tractores com o seu nome, uma das maiores produtoras de máquinas agrícola de Itália. Como qualquer milionário do norte de Itália, era um fiel admirador dos construtores do seu país, e com as suas habilidades mecânicas, chegou a participar nas Mille Miglia em 1948 com um Fiat Topolino que ele próprio modificou. No entanto, um acidente na prova levou-o a perder o interesse em competição automóvel, mas não em carros rápidos. Procurou-os na Mercedes, na Jaguar, na Maserati e, finalmente, na Ferrari, cujos modelos se aproximavam do seu ideal. Mas Ferruccio Lamborghini achava que os carros da famosa marca eram duros demais e que o serviço de pós-venda era de fraca qualidade. Lamborghini criticou Enzo Ferrari directamente e jurou fazer ele um carro que fosse mais rápido que um Ferrari.
A Lamborghini Automobili SpA foi fundada em 1963 e o seu primeiro carro surgiu no ano seguinte. O 350 GT tinha um V12 compacto de 3500 cc de 270 cv, construído em alumínio, e o designer Gianpaolo Dallara criou-lhe uma carroçaria futurista e ultraleve, permitindo-lhe ultrapassar os 250 km/h de velocidade máxima. Em 1966, o terceiro carro da marca, o Miura, introduziu o estilo agressivo, com um grande capot dianteiro, desenhado pelo lendário Marcello Gandini. O Miura tinha um V12 de 3900 cc com 350 cv.

Em 1974, Ferruccio Lamborghini reformou-se e vendeu a marca, justamente quando foi lançado o substituto do Miura, o Countach. O nome significa ‘espantoso’ na língua piemontesa (língua regional italiana, hoje falada apenas a nível local), uma designação apropriada tendo em conta que a carroçaria ainda era mais baixa, mais agressiva, e mais próxima do design aero-espacial, que continuavam a cargo de Marcello Gandini. Os planos para um novo motor de 5000 cc foram interrompidos e a produção começou com o V12 de 3900 cc, mas agora com 375 cv, que lhe permitiam atingir os 300 km/h. Foram produzidos 158 exemplares deste primeiro modelo, conhecido como Countach LP400. O primeiro exemplar foi recentemente vendido num leilão por 953.500 libras (1,2 milhões de euros).
Mas o LP400 não era suficientemente exótico. Devido a novas regulamentações anti-poluição, a potência foi baixada para 355 cv, mas o chassis e a carroçaria foram alvo de grandes melhorias, e em 1978, o LP400S nasceu, com alargamentos das cavas das rodas, para esconder os pneus mais largos. A famosa asa traseira em forma de V apareceu pela primeira vez, mas só como opcional. Foram construídos 237 exemplares. O LP400S foi transformado em LP500S, em 1982, com um motor de 4800 cc, aumentado para 375 cv, mas de utilização mais suave, o que lhe abriu mais terreno no mercado americano, mas como era mais pesado, não conseguia atingir os 300 km/h. Teve direito a 323 exemplares.
Foi em 1985 que surgiu a versão final, a mais famosa, a mais agressiva e a mais potente. Com o Countach 5000QV, os novos donos da marca não pouparam esforços e transformaram o bólide italiano no supercarro que merecia ser. No motor, aumentaram a cilindrada para 5200 cc, montaram-lhe uma cabeça de quatro válvulas por cilindro (48 válvulas), e seis carburadores verticais. A nova posição dos carburadores obrigou a criar uma bossa no capot, acabando de vez com a visibilidade traseira. Teve também novos pára-choques (por causa das normas de segurança americanas), e painéis da carroçaria construídos em kevlar. A potência subiu para os 455 cv, fazendo do Countach o automóvel de produção mais potente do mundo, título que perdeu ao fim de dois anos para o Ferrari F40. Dizia-se que a potência era maior, mas que os proprietários da Lamborghini não queriam embaraçar o Ferrari Testarossa, que nem chegava aos 400 cv. Em 1988, uma série especial para comemorar o 25º aniversário da Lamborghini trouxe alguns refinamentos necessários face à nova concorrência.
O Countach continuou a ser produzido até 1990, quando deu lugar ao Lamborghini Diablo. O 5000QV foi a variante mais bem-sucedida do modelo, com 1326 unidades produzidas, para um total de 2042 (incluindo o protótipo) durante os seus 16 anos de vida. A marca chegou a ensaiar criar uma versão turbo, que teria 740 cv, quase o dobro do Countach original e quase impensável para a época, para uma velocidade máxima de 333 km/h.
Como não podia deixar de ser, um favorito dos entusiastas das quatro rodas deu origem a uma grande variedade de merchandising. Os mais conhecidos eram os pósteres, dos quais era difícil encontrar dois iguais, e os calendários. As miniaturas também eram muito apreciadas, tendo o carro sido licenciado à Matchbox e Tomica, à escala 1:43, para os coleccionadores mais novos usarem como brinquedos. Para os adultos, a Tamiya e a Revell criou modelos à escala 1:24 e a Burago e a Polistil venderam-no à escala 1:18. Mesmo nos dias de hoje existem versões de produção mais recente da Minichamps (1:43), Motormax (1:24), Autoart (1:18) e Kyosho (1:18). O obrigatório carro telecomandado foi produzido pela Tamiya e Tyco.
O Lamborghini Countach também foi imortalizado nas linhas de bonecos dos Transformers da Takara e da Hasbro, como modo alternativo dos robot Sideswipe (em vermelho) e Sunstreaker (em amarelo).

Paulo Costa é um jornalista conhecido pelos seus trabalhos na revista Autosport e ao qual agradeço pela sua colaboração com o blog.