Volto ao meu maior prazer no mundo, a Banda Desenhada, para falar de uma das personagens que mais gozo me deu ler nas revistas da editora Abril, o caipira Urtigão. Uma das poucas personagens humanas no meio de Patos, pássaros e ratos, Urtigão conquistou tudo e todos tornando-se um dos mais populares e tendo direito a revista própria com grandes histórias produzidas no Brasil.
Hard Haid Moe (Urtigão) foi criado em 1964 por Dick Kinney e Al Hubbard, fez 50 anos há pouco tempo e apesar de estar longe da popularidade que alcançou nos anos 80, continua a ser uma personagem muito acarinhada por todos aqueles que cresceram a ler as revistas da Disney, em especial os que tinham acesso ao material Brasileiro da Editora Abril. Teve o mérito de ser das primeiras personagens humanas criada para os comics, as outras vinham dos filmes (como Madame Min) e foi talvez por isso a mais popular.
Foi caracterizado como um caipira, que vivia no Brejo das Urtigas a sul de Patopólis, uma zona rural onde existiam pessoas simples e que viviam do campo e do que este lhes dava. Não devia ser muito longe de onde morava a Vovó Donalda e eles chegaram inclusive a aparecer em algumas histórias juntos. Com um temperamento irascível, aparecia quase sempre de carabina na mão pronto a disparar contra todos que o fossem chatear à sua quinta, especialmente se esses fossem o Peninha e o Donald.
As primeiras histórias dele envolviam aliás muito o Peninha, era quase uma espécie de antagonista, e quando o estúdio Brasileiro começou a produzir histórias aproveitava essa rivalidade de uma forma hilariante. Inicialmente criado com barba e cabelo ruivo, na Itália e no Brasil apareceu com barba e cabelo branco, de pé descalço e usando uma camisola amarela e um macacão preto remendado. Usando um chapéu verde na cabeça, era fácil simpatizar com ele apesar do seu temperamento, afinal ele apenas queria o sossego e viver na sua quinta juntamente com o seu cão preguiçoso e fiel.
Depois de algumas aparições na década de 60 e 70, começaram a surgir as primeiras histórias feitas no Brasil, em 1972 o artista Carlos Edgard Herrero desenhou uma história que acabou por ser lançada para o mercado externo e na revista do Zé Carioca começaram a sair histórias escritas e desenhadas por Brasileiros com Carlos Alberto Paes de Oliveira e Ivan Saidenberg em grande destaque.

Não tardou a ganhar uma revista própria quinzenal que esteve nas bancas entre 1987 e 1994, um caso raro de longevidade mas fácil de entender pela popularidade que o simpático caipira tinha atingido. Aliás em algumas das histórias o mesmo começou a não ser tão rezingão e a ser muitas vezes simpático, especialmente com os sobrinhos do Donald com os quais ele engraçava muito.
O próprio Saidenberg desenhava ele de uma forma menos agressiva, e os seus diálogos transmitiam também menos raiva mas sempre com aquele jeitinho especial caipira e brejeiro. Confesso que me divertia muito a ler aqueles “uai” e “craro” entre outros “erros” nas palavras que ele dizia, fazia parte do charme, era uma espécie de Thor mas no reverso da medalha.
Anos mais tarde criaram a Firmina, uma espécie de governanta (algo confuso para quem vivia numa barraca) e da qual nunca fui muito fã. Acho que descaracterizava muito a personagem e ele ficava melhor sozinho com o seu cão. Gostava quando interagia com os seus vizinhos caipiras, fosse em competições para ver quem cultivava mais, fosse numa simples interajuda. Lembro-me de uma história em que ele fica chateado porque todos eles têm electricidade e preferem ficar a jogar, ver tv a ir ajudar ele apanhar o milho, mas depois quando falta a luz vão todos juntos para o campo.
Chegou a ter almanaques, e eram mais as histórias divertidas e interessantes que aquelas que não queríamos ler. Era sem sombra de dúvidas um dos melhores da produção Brasileira relacionada com a Disney e deixa muita saudade. Ultimamente os Italianos voltaram a pegar nele, mas está uma personagem sem charme nem carisma nenhum.