Sou Sportinguista, mas volta e meia houve sempre um jogador nos meus clubes rivais que me enchia as medidas, e Vítor Paneira foi um dos meus preferidos dos que envergou a camisola encarnada. Um médio com uma classe técnica acima da média e que marcou uma geração de Benfiquistas.
Vítor Manuel da Costa Araújo, conhecido no mundo do futebol como Vítor Paneira nasceu a 12 de Fevereiro de 1966 em Vila Nova de Famalicão, Começou a jogar no clube da sua terra em 1986 passando depois pelo Vizela antes de ingressar num dos maiores clubes de Portugal, o Benfica em 1988 que já o tinha contratado mal saiu do Famalicão, mas o jogador falou com a direcção em deixá-lo ficar um ano em Vizela já que tinha se comprometido com esse clube. Essa atitude mostra como, também fora dos relvados, Paneira tinha alguma classe.
Com 1,77m e 70kg começou-se a impor no colosso Lisboeta no lado direito, agarrando logo um lugar no Onze daquela que era a equipa vice campeã Europeia. O treinador Eriksson contribuiu para isso, era fã da capacidade de drible de Paneira, da sua qualidade técnica e táctica com os seus passes quase dignos de estudo numa aula de geometria, fazendo com que fosse dono absoluto da ala direita como o médio mais avançado mas que também sabia defender (aliás chegou a actuar a lateral direito na sua carreira).

Sagrou-se campeão na sua primeira temporada de águia ao peito, tornou-se um símbolo do clube e chegou a ser capitão ficando no Benfica até a chegada de Artur Jorge e o dispensar em 1995 da equipa onde tinha sido campeão no ano anterior.
Dono de uma técnica acima da média, a sua finta onde pendia para o lado esquerdo e depois seguia pela linha era imbatível e só alguns laterais lhe deram algum trabalho nisso como o próprio mais tarde admitiu. Elege Maldini como o mais complicado de driblar, numa década que o Benfica enfrentou várias vezes o Milão, e numa dessas vezes (na final da taça dos campeões) Paneira deu algum show, e teve até a melhor oportunidade do jogo.
Com Rui Costa, Paulo Sousa e Paulo Futre formou o último meio campo de qualidade Mundial do Benfica formada por Portugueses, ajudou a que nomes como Vata, Valdo, Kulkov, Isaías, Magnusson, Yuran ou Rui Águas brilhassem mais devido aos seus passes certeiros e que muitas vezes eram praticamente meio golo.
Foi campeão em 90/91 e 93/94, marcou quase 30 golos de águia ao peito, teve em duas finais Europeias, perdendo a dos Campeões para o Milão e a da Taça das Taças para o Parma (onde falhou uma grande Penalidade) e fez o jogo da sua vida na Europa em 92/93 onde marcou os dois golos da vitória 2×1 sobre a Juventus e que fez correr o rumor que poderia ser transferido para o colosso Italiano.
Isto depois de em 1990 ter sido forçado a uma pausa quando foi acusado de desertar e teve que cumprir pena militar, mas isso não impediu que voltasse em grande ao clube que o viu crescer de forma profissional. Entregou-se sempre de uma forma leal e humilde a esse mesmo clube, é para mim um dos maiores símbolos do Benfica dos anos 90 e como já disse, um dos que mais gostei de ver jogar, quer na direita quer no centro do terreno tal a sua qualidade técnica e táctica. Tive pena de não ter vindo para o Sporting quando foi dispensado da Luz, mas o seu amor ao clube das Águias fez com que recusasse o convite de Santana Lopes e fez com que rumasse ao Vitória Guimarães onde fez 128 jogos e 15 golos, onde manteve uma qualidade futebolística invejável que fez com que continuasse a ser chamado a selecção nacional e até “ajudasse” a despedir Artur Jorge quando fez uma exibição fantástica na Luz.

Muitos já o julgavam acabado para o futebol, mas acabou por ser convocado para o Euro 96, uma prenda para aquele que foi o dono do lado direito da selecção, até meados dos anos 90 quando Luís Figo começou a dar nas vistas. Fez 44 jogos e marcou 4 golos representando as cores de Portugal, naquela altura que ficávamos sempre no “quase”, apesar da boa qualidade técnica dos futebolistas que a representavam.
Paneira acabou a sua carreira na Académica, um histórico do futebol Português, onde jogou de 1999 a 2001, jogando quase meia centena de jogos e marcando dois golos. Enveredou pela carreira de treinador, onde continua a pautar pelo seu profissionalismo e entrega, mesmo em clubes de menor dimensão e apresentando sempre um bom trabalho. Penso que poderia ser mais reconhecido pelo clube ao qual deu tanto e representou durante tantos anos, mas mesmo assim ele parece não exigir nada nem guardar rancor.
Fui grande fã dele no Benfica, mas também no Vitória Guimarães, onde fez quatro temporadas fantásticas num plantel bastante interessante e que até dava nas vistas no nosso campeonato. Quem mais era fã deste excelente médio? Apesar de não ser do Benfica, continuo a achar que foi o último nº 7 de qualidade do clube (talvez Poborsky teve lá perto)