Uma das séries mais míticas da RTP, Duarte e Companhia apanhou todos de surpresa com o seu humor castiço e o seu elenco cheio de carisma que fizeram com que esta se tornasse uma das nossas séries de eleição.
Rogério Ceitil foi o cérebro que idealizou a série, lançando as sementes nos últimos episódios de outra série criada por ele, a também mítica Zé Gato. Muitos dizem que foi por perceber as limitações e dificuldades de criar uma série policial “a sério” em Portugal, que Ceitil optou por ir pela parte cómica e apostar numa dupla de detectives desajeitada e uma série com humor muito non-sense.
Duarte e Companhia surgiu assim em 1985, e rapidamente caiu no goto dos Portugueses que gostavam do ar desajeitado de Duarte apesar de toda a sua arrogância, do deixa a andar do Tó que preferia ficar a ler o jornal ou dos murros que a Joaninha dava a quem olhava para ela de forma mais intensa. Falta ainda falar do carro onde se deslocavam, um 2 cavalos da Citrôen que se tornou uma parte integrante do elenco e tão popular como os outros elementos do programa. Falta ainda falar dos vilões, alguns deles a estrearem-se na televisão e sem nenhum passado como actores, mas com um carisma que fez com que todos ficassem fãs quer do Rocha, quer do Chinês.
A série tinha um ar castiço e dependia muitas vezes da boa vontade quer do elenco, quer dos directores da RTP para se fazerem sempre novas temporadas, o que foi sempre conseguido com sucesso fazendo com que o programa estivesse no ar entre 1985 e 1989 num total de 5 temporadas e cerca de 39 episódios. Era filmado muitas vezes com máquinas pertencentes a alguém da produção, em apartamentos de alguém do elenco e as roupas eram todas deles também, tudo isto acabou por ajudar ao ar castiço do programa e parte do seu charme.

Segundo uma entrevista de Rui Mendes “..O Ceitil tinha película para filmar, duas caixas de Agfa, duas de Kodak, uma de Fuji, e cada uma de sua cor, às tantas, aquilo… Era a película que se usava no telejornal, que não tinha negativo, era em diapositivo. Ia revelar e depois era colada com fita gomada.” Apesar de todo o tom da série e dos tiros que se trocavam, não se via sangue nem mortes, Ceitil queria que a coisa ficasse sempre mais pelo tom leve e sem enveredar por esse tipo de violência.
João Miguel Paulino criou grande parte da série com os seus textos, com as músicas da série a ficarem a cargo de nomes como Carlos Alberto Moniz, José Jorge Letria e José Luís Tinoco. A primeira temporada teve um genérico mais “sério” e sóbrio, com Duarte e o seu parceiro Tó a dispararem contra o ecrã numa pose verdadeiramente policial. Mais tarde optou-se por um genérico mais animado com uma música e letra que tinha muito mais a ver com o que víamos nos episódios, uma loucura saudável e muito divertida.
Rui Mendes era Duarte o protagonista, um detective privado fanfarrão que adorava um belo rabo de saia e que não tinha lá muito jeito para a parte policial da coisa apesar de se achar o maior. Como parceiro tinha Tó, interpretado pelo saudoso António Assunção, uma personagem simpática que gostava de ler o seu jornal da Bola e tinha uma paciência de santo para as maluquices do seu chefe apesar de demonstrar ter muito mais bom senso (e até mesmo inteligência) que o seu superior.
Já Paula Mora foi uma das Sex Symbol mais vestidas da década, vestindo o papel da secretária Joaninha que não gostava muito de ser tocada e assediada por homens e que respondia sempre com umas valentes bofetadas. Aliás os elementos do sexo feminino eram conhecidos por serem capazes de “aviar” os do sexo masculino com umas grandes estaladas ou umas malas na cabeça como era o caso da mulher de Duarte ou a sua sogra.
Os “vilões” da série, um grupo de malfeitores com particularidades cómicas fora do comum, como um que não podia ver sangue, ou outro que não gostava que o chamassem de Chinês, roubavam a cena sempre que apareciam, e era um grupo verdadeiramente fantástico.

Guilherme Filipe era Lúcifer, um dos líderes de um dos grupos, enquanto no outro lado era o Átila de Luís Vicente que chefiava um bando de vilões desajeitados mas generosos a quererem sempre ajudar o seu estimado chefe a vencer a guerra.
António Rocha era o grande brutamontes chamado (convenientemente) de Rocha, com um visual entre o Chalana e o Bento e sempre com vontade de andar à porrada com o Chinês. Chinês esse que segundo Francisco Cheong era Japonês utilizando sempre a frase “Eu não sel Chinês, sel Japonês.”. Existia ainda também um que não podia ver sangue e outro que tinha tudo menos ar de vilão, incluindo o seu nome (Tino).
Um dos meus episódios favoritos era o da Cadeira do Poder porque lidava principalmente com estes 2 grupos de malfeitores e como cada um queria triunfar sobre o outro, existiam ideias para armadilhas mirabolantes que resultavam sempre em grandes gargalhadas. Também gostei da storyline que envolvia um gangster que queria ser cantor mas era um atirador e pêras para além de ter uma fada madrinha que acaba por se envolver com um dos vilões.
No elenco tínhamos ainda nomes como Lídia Franco ou o grande Canto e Castro e passaram por lá convidados como Helena Isabel, Adelaide Ferreira, José Pedro Gomes ou Isabel Medina. Uma série com uma grande alma, um humor sem sentido e um argumento muito interessante, o que fizeram com que fosse um programa inesquecível para todos nós, como comprova as constantes repetições por parte da RTP nos seus diversos canais e até na edição em DVD das suas primeiras temporadas.