Recordo hoje um dos maiores clássicos infantis Portugueses, que deu origem também a uma série de desenhos animados bastante interessante e que muitos de nós recordam com saudade. O Romance da Raposa foi mais um programa nacional de sucesso, um daqueles desenhos que via sempre com grande interesse e do qual tenho saudades.
Aquilino Ribeiro escreveu o clássico Romance da Raposa para oferecer ao seu filho Aníbal, foi essa a sua prenda de Natal em 1924, um livro divertido proveniente de uma imaginação fantástica e com a típica escrita de Aquilino, cheio de expressões e gíria popular que davam um tom completamente diferente e original à história. A sabedoria popular está presente em todas as páginas, com a coloquialidade que o autor sempre nos habituou.
Quem não se recorda de expressões como “Quem não trabuca não manduca“? Ainda hoje perdura, assim como o Salta Pocinhas, nome da protagonista do livro. As ilustrações de Benjamin Rabier ilustraram a versão original, e foram várias as versões dele e cada um de nós pode ter conhecido o romance por uma versão diferente.
Em 1988 estreou a série baseada no livro, produzida pela Topefilme em conjunto com a Telecine, o desenho teve 13 episódios realizados por Artur Correia e Ricardo Neto, sendo transmitidos pela RTP com bastante aceitação por parte do público. Parte do sucesso foi também o facto de conseguir transmitir na perfeição o espírito do livro, cheia de lengas lengas e rimas castiças, uma produção repleta de qualidade.
Fernanda Figueiredo era a voz da personagem principal, Joel Branco era o corvo e ainda tínhamos António Semedo como o Texugo e Luís Horta como o Lobo. Todos nos divertimos a ver as partidas e traquinices desta raposa, principalmente quando atazanava o Lobo e até lhe roubava a comida.
Existiu também uma colecção de calendários da Impala, lembro-me de ter alguns com ilustrações bem interessantes e tudo a ver com o espírito da coisa toda.
«Havia três dias e três noites que a Salta-Pocinhas – raposeta matreira, fagueira, lambisqueira – corria os bosques, farejando, batendo mato, sem conseguir deitar a unha a outra caça além de uns míseros gafanhotos, nem atinar com abrigo em que pudesse dormir um sonhinho descansado. Desesperada de tão pouca sorte, vinham-lhe tentações de tornar para casa dos pais, onde, embora subterrânea, a cama era mais quente e segura que em castelo de rei, e onde nunca faltava galinha, quando não fosse fresca, de conserva, ou então coelho bravo, acabado de degolar.»
Quem viu isto? Ou leram o livro?