Um dos dirigentes mais emblemáticos do futebol Português, Pimenta Machado foi uma figura incontornável dos anos 80 e 90 ao comando do Vitória de Guimarães. Como presidente soube sempre defender os interesses do clube, apesar de por vezes perder a cabeça em alguns momentos e isso em nada beneficiar o clube. Ficou célebre pela frase “No futebol o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira”.
António Alberto Coimbra Pimenta Machado nasceu a 12 de Abril de 1950 em São Torcato, Guimarães, no seio de uma família abastada e vivendo uma vida onde sempre demonstrou a paixão pelo clube da sua terra, deixando de parte a sua licenciatura em Direito para ser parte activa na direcção do clube, chegando a ser vice-presidente durante dois anos antes de assumir a presidência a 10 de Março de 1980, com apenas 29 anos de idade.
A votação foi praticamente unânime (apenas um voto nulo), numas eleições sem concorrência tal era o apoio que ele recolhia em todos os sectores. Hoje apesar de todas as polémicas e de estar já afastado do clube, o seu nome continua sinónimo do Vitória Guimarães, tal a força com que defendeu o mesmo por mais de 20 anos, é o segundo presidente da I divisão com mais anos à frente de um clube, e o terceiro da Península ibérica com mais anos em função (só perdendo para Josep Lluis Nuñez do Barcelona e Pinto da Costa no Porto).
Desde cedo demonstrou um grande à vontade a intervir nas decisões do futebol português, foi um forte contestatário do sistema de arbitragem, defendendo o sorteio e enfrentando personalidades desse sector sem nenhum problema, entrando também em conflitos com outros dirigentes como Valentim Loureiro ou Pinto da Costa.
Fez boas contratações, quer em jogadores quer em treinadores, mas neste último caso o seu mau feitio e falta de paciência fazia com que dispensasse treinadores sem dó nem piedade, mesmo que estes até estivessem a fazer um bom trabalho.

Jaime Pacheco, Paulo Autuori, Marinho Peres, Quinito, Vítor Oliveira, Manuel José, João Alves, António Morais e René Simões são alguns dos nomes que estiveram ao comando do banco vitoriano. No caso de René deu até azo à frase mais famosa do dirigente, isto porque em 1987 após um empate contra o Marítimo, houve uma fuga de informação acerca do despedimento do treinador e levou a que o presidente voltasse atrás (apenas por uma semana), e proferindo a frase “No futebol o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira“.
Foram 24 nomes, três comandaram a equipa em duas ocasiões distintas (Djunga, Marinho Peres e Quinito se bem que podemos incluir também Autuori, que começou no clube como adjunto e depois voltou como principal), um esteve sempre presente em diversos quadros técnicos (Manuel Machado), e apenas meia dúzia fez duas épocas seguidas no banco vimaranense, com Jaime Pacheco e Pedroto a serem os que estiveram mais perto de bater recorde de permanência no banco.
Nem sempre era o presidente a demitir os treinadores, muitas vezes estes saíam sozinhos, muitas vezes a seguir a uma bela campanha desportiva, como aquela que apurou os Vimaranenses para a Europa em 90 com Autuori a sofrer com as pressões do presidente, que queria escolher a equipa a entrar em campo e vendeu elementos essenciais ao treinador como era o caso do central William.
Foi o único a demitir-se com uma época a decorrer, todos os outros apenas não aceitaram renovação alegando problemas com o presidente, como Manuel José, Quinito ou Marinho Peres. Este último foi responsável pela melhor época do emblema Vimaranense em 1986/87, com a melhor classificação no campeonato e uma boa campanha europeia, a equipa chegou aos quartos de final, eliminando o Sparta de Praga (Checoslováquia), o Atlético de Madrid (Espanha) e o FC Groeningen (Holanda). O clube vimaranense só foi travado pelos alemães do Borussia de Moenchengladbach

Apresentando um futebol bonito, assente em contratações chave escolhidas a dedo pelo treinador, o clube apresentava resultando, conseguindo conquistar até uma supertaça. Mesmo assim o treinador saiu, e anos mais tarde voltou mas para uma época esquisita, sem nenhum apoio da direcção e que muitos consideram apenas uma tentativa de Pimenta Machado atacar o mito do treinador e a sua força perante os adeptos.
Nos anos 90 era comum ver a equipa de Guimarães na Europa, e apesar de nunca chegar aos lugares cimeiros, a equipa andava sempre na primeira metade do campeonato, fruto de belos plantéis que Pimenta Machado colocava à disposição dos seus treinadores, e quando eles não correspondia ele não perdoava, mesmo quando eram suas apostas pessoais como foi o caso de Vítor Oliveira, que nunca conquistou a simpatia dos adeptos.
Numa equipa que tinha nomes como Paneira, Capucho ou Zahovic, esperava-se muito mais e o futebol defensivo do treinador nunca soube tirar o melhor proveito dessas pérolas. O contrário aconteceu com Jaime Pacheco, o treinador levou o clube por duas vezes ao 5º lugar (sendo que na primeira vez pegou na equipa em despromoção) e foi despedido na terceira época, quando estava no segundo lugar e parecia levar a equipa para outros vôos.
Por outro lado era considerado um bom negociante, conseguindo vender ou trocar vários jogadores para os clubes grandes, Paulinho Cascavel, Pedro Barbosa e Pedro Martins e mais tarde Quim Berto viajaram para Alvalade, Paulo Ricardo, Paquito e Capucho (este último tinha vindo para o Guimarães no negócio dos Pedros) para o Porto e Ademir, William e mais tarde Paulo Bento e Dimas para o Benfica, negócio que levou ao corte de relações entre os dois clubes.
Foi também responsável pela construção do complexo desportivo do Guimarães, o primeiro clube a ter algo do género em Portugal, a prova de que foi um dos dirigentes com maior visão, apenas se deixando levar muitas vezes pela paixão que tinha no futebol. Mesmo depois de ter sido preso, conseguiu voltar a candidatar-se e vencer uma eleição, provando que os adeptos não esquecem o que já fez por eles.
Num texto de António Poças no Record, encontrei este interessante Dez Mandamentos de Pimenta Machado.
1) AUTORIDADE – No V. Guimarães, a liderança é questão que não se coloca: todos sabem que “manda quem paga” e se exige o respeito pelas hierarquias. A par com a disciplina, que é por lá coisa sagrada.
2) BALNEÁRIO – Pimenta Machado praticou futebol mas não cultiva o hábito de “descer” ao balneário. O que tem a dizer fá-lo no recato do seu gabinete e as idas à cabina não são bom sinal: há bronca pela certa!
3) CONTRATAÇÕES – É um “dossier” que o presidente do Vitória não abdica de controlar por inteiro. E não há “manager” ou director desportivo que o façam delegar competências. Como se provou no último “Natal”…
4) “DICAS” DO ONZE – Nenhum treinador o revela às claras mas muitos reconhecem “em off” que o presidente tem opinião sobre a formação da equipa. E não se inibe de dá-la, sempre que entende necessário.
5) DISCRIÇÃO – É outra das máximas que o “patrão” do vitória preserva. Detesta quem dê com a “língua nos dentes”, por entender que as fugas de informação são uma prerrogativa da sua exclusiva competência.
6) FUTEBOL – Vinte anos na presidência deram-lhe a “escola toda”, nos regulamentos e na detecção dos craques. E, em matéria de compra e venda de jogadores, já provou bastas vezes ter “olho” para o negócio.
7) PRESSÃO DOS SÓCIOS – Eis uma matéria a que é particularmente sensível, em termos de opiniões alheias. Sabe que depende do agrado das massas e, quando a pressão é muita, o líder não hesita em ceder.
8) PROTAGONISMO – Um dos aspectos de maior melindre para todo e qualquer candidato a treinador do Vitória. O presidente habituou-se à luz dos “holofotes” e é opção de risco querer ser “mais papista que o papa”.
9) “RECADOS” – “Usar” a Imprensa para atingir os seus alvos foi uma das artes em que Pimenta se especializou. Com precisão clínica, tanto a promover jogadores como a advertir os seus técnicos ou adversários.
10) RESULTADOS – “Ai dos vencidos” é uma máxima dos imperadores romanos cultivada também por Pimenta Machado. Sem “pachorra” para resultados que tardam, não hesita em ir à procura de um novo “general”.
