Um dos futebolistas mais queridos do nosso futebol, Neno espalhou simpatia pelos relvados e construiu uma carreira em Portugal, onde sempre foi respeitado pelos seus companheiros e adversários.
Adelino Augusto Graça Barbosa Barros nasceu a 27 de Janeiro de 1962, natural de Cabo Verde e conhecido no mundo do futebol, e da música, pelo nome de Neno. Quando criança já demonstrava o gosto pelo futebol nas ruas da cidade da Praia, vindo pouco depois para Portugal com a sua família e ficando a viver no Barreiro. Logo cedo chamou a atenção do maior clube da região, o Barreirense, para onde iria jogar aos 16 anos de idade e onde ficaria por 5 anos, dando nas vistas com as suas belas exibições na protecção das redes da sua equipa.
Acabou por assinar em 85/86 por um dos maiores clubes do país, o SL Benfica, onde acabou por não ficar muito tempo já que se encontrava tapado por outros guarda redes como o grande Bento, e foi emprestado ao Vitória Guimarães onde iria ocupar o lugar de Silvino, que regressava à Luz e serviria como alternativa a Jesus nas redes vimaranenses.
O técnico Goethals acabaria por colocar Neno a titular a meio da temporada, fruto de algumas más exibições da equipa, e este nunca mais largou o lugar, recebendo boas críticas e evoluindo de uma forma clara naquela posição. O Guimarães ficaria em 9º lugar, mas o futebolista cabo verdiano não passou despercebido, com os seus reflexos e agilidade para além de ser também muito rápido. Neno demonstrou também desde cedo ser bastante arrojado, sem medo ao fazer-se aos lances e a fazer grandes voos na baliza para defesas extraordinárias. Mas também desde cedo começou a demonstrar algo que se veio a revelar seu calcanhar de aquiles, o jogo aéreo, onde acabou por sofrer alguns frangos ao longo da sua carreira.

Voltou então à casa mãe, onde ficaria em 1985/86 e 86/87, mas fazendo apenas um jogo nessas duas épocas, sendo sempre tapado primeiro por Bento e depois por Silvino. Na época seguinte o desportista decide então pedir para ser emprestado e vai para o Vitória de Setúbal, esperando jogar com mais regularidade, algo que não veio a acontecer já que a baliza sadina era muito bem guardada pelo veterano Meszaros.
Vendo que continuava sem oportunidades no Benfica, voltou então a uma casa onde já tinha sido feliz, o Guimarães. Começou logo em grande com a conquista da supertaça de 88/89, onde fez grande exibição contra o FC Porto, e acabou a temporada distinguido com o prémio de melhor jogador da competição pelo jornal A Bola, fruto da sua pontuação ao longo dos jogos, apesar de o clube ter feito um campeonato abaixo da média.
Começou a ser convocado para a selecção, onde voltava a ser suplente de Silvino, e em 89/90 participou da campanha que levou o Guimarães ao 4º lugar, treinado pelo brasileiro Autuori que apostou também no guarda redes Madureira, promovendo uma rotatividade na baliza. A sua boa disposição dava nas vistas em conjunto com a sua qualidade na baliza, gostava sempre de divertir os seus colegas, promovendo brincadeiras nos treinos e estágios, para além de gostar sempre muito de cantar, virando o Julio Inglesias português.
Com 28 anos e capitão da equipa do Vitória, tinha chegado então a altura de voltar à Luz e assumir as redes encarnadas, com Eriksson a apostar ele na segunda metade da época de 1990/91, em detrimento de Silvino que viria a se tornar o eterno parceiro de Neno, quer no Benfica quer na selecção nacional. Sempre que ia jogar a Guimarães era aplaudido de pé, provando ter uma estreita ligação com os adeptos da casa e que todos sentiam grande carinho por ele, mesmo estando noutra equipa.
Com uma defesa muito jovem constituída por Paulo Madeira e Rui Bento, Neno foi a vedeta do clube em 1991/92, apesar do clube não ter conquistado nenhum título. Fez grandes exibições na Taça dos Campeões Europeus, onde o clube fez uma excelente campanha em Londres frente ao Arsenal. Mas no ano seguinte houve mudança de treinador, e tanto Tomislav Ivic como Toni decidiram apostar em Silvino como o número um do Benfica.
Neno viria a protagonizar um episódio insólito, ao ser expulso no Bessa e a ser substituído na baliza por Paulo Sousa, um momento bastante caricato. Os encarnados não venceriam esse campeonato onde Silvino foi o titular, mas conquistariam a competição onde Neno era o titular, a Taça de Portugal. Mas voltou a ser o dono da baliza, voltando Silvino para o banco, na temporada seguinte onde se sagraria campeão, perdendo de novo o lugar na época que se seguiria devido à contratação de Michel Preud’Homme.
Aos 33 anos, decide sair do Benfica na temporada 94/95, discordando por completo da forma como o clube está a ser gerido e é alvo dos mais variados convites, inclusive do Sporting, mas acabaria por seguir o coração e voltar onde sempre foi feliz, o Guimarães.
Fez maior parte dos jogos, ao comando de Vítor oliveira primeiro e depois Jaime Pacheco, terminando a temporada no 5º lugar e sendo uma das principais figuras do plantel, juntamente com o seu amigo Vítor Paneira que tinha vindo com ele da luz. Mas na temporada seguinte passa um mau bocado, depois de um jogo contra o Benfica onde sofreu alguns golos constrangedores e algumas vozes começaram a criticar o porquê desses golos. Acabou substituído por Nuno que depois não perderia a titularidade.

1996 viu também a sua convocatória para o Europeu a ir por água abaixo, quando o seleccionador decide nem o convocar isto apesar de ter sempre feito parte da qualificação para o mesmo. Mesmo assim em 1996/97, e aos 34 anos de idade, voltou a ter um campeonato ao melhor nível e com exibições regulares, que voltou a terminar no 5º lugar. Neno voltou a receber um prémio do jornal A Bola, como o jogador mais pontuado do campeonato, curiosamente numa disputa com Preud’homme, com o jogador-cantor a levar a melhor.
Pouco depois viria a sofrer a concorrência de Pedro Espinha, que rapidamente se tornou o dono das redes vimaranenses, deixando Neno no banco e fazendo com que este aos 37 anos decidisse então colocar ponto final na carreira, dedicando-se cada vez mais à música.
Neno no entanto volta ao futebol em diversas funções no clube que conquistou o seu coração, o Vitória de Guimarães. Sempre achei alguma piada ao Neno, apesar de muitas vezes preferir ver o Silvino como titular (mesmo não sendo o meu clube), sempre achei que tivesse alguma qualidade mas que nunca foi um fora de série.