Voltamos a mais um Memórias dos Outros, com o escritor Paulo Neto a trazer-nos a sua recordação sobre a Fábula de Rock&Roll do cinema dos anos 80, o filme Streets of Fire, conhecido por cá também como Estrada de Fogo.
Cody e McCoy conseguem introduzir-se no antro dos Bombers e salvar Ellen. Raven descobre-os já em fuga e segue em seu encalço. Durante a alucinante fuga, Cody, Ellen, Billy e McCoy acabam por arrastar com eles também uma fã de Ellen (Elizabeth Daily) e The Sorels, um grupo de doo-wop que viaja num autocarro. Quando chegam à cidade, Ellen desilude-se quando Billy afirma que Cody só concordou em salvá-la por dinheiro. Mas quando este aceita apenas a parte prometida a McCoy, Ellen e Cody retomam brevemente o romance. Só que o iminente confronto com Raven vai mudar de novo o destino de ambos…
Promovido como um dos blockbusters no Verão de 1984, “Estrada de Fogo” acabou por ser um fracasso de bilheteira e foi achincalhado na crítica. E de facto, contém várias pontas soltas que impedem de ser o grande filme que poderia ser. O principal problema estará porventura no protagonista, pois Michael Paré revela ter o carisma de uma ostra, demasiado caricatural nas cenas de acção e pouco convincente na parte romântica. Diane Lane é bela e sensual, mas nota-se que ainda estava um bocadinho verde para este seu primeiro grande papel. Willem DeFoe, apesar da sua habitual competência, também não consegue escapar à caricatura. Salvam-se sobretudo Amy Madigan, segura e convicente no seu papel de maria-rapaz (inicialmente escrito como uma personagem masculina) e Rick Moranis, que interpreta aqui uma variante interessante do sua eterna personagem de nerd que faz em todos os seus filmes, a do nerd fanfarrão e cheio de garganta, mas pouco traquejo. De assinalar também um cameo de Marine Jahan, que fez as partes de dança da protagonista de “Flashdance”, como a stripper do antro dos Bombers. Também não percebo a personagem da groupie (Elizabeth Daily), a quem o grupo aceita que ela os acompanhe para que ela não denuncie Ellen e para eles não perderem tempo. Tirando esse primeiro momento, ela passa o resto do filme como um emplastro irrelevante.
“Estrada de Fogo” esteve inicialmente pensado para ser o primeiro tomo de uma trilogia de Tom Cody, mas o insucesso comercial inviabilizou a continuação do projecto. Porém, em 2008, houve uma sequela não oficial e que passou completamente despercebida fora do circuito independente, “Road to Hell” com Michael Paré e Deborah van Valkenburg a retomarem os seus papéis.