Tieta foi uma das melhores telenovelas de todos os tempos, e uma das minhas preferidas, conquistando tudo e todos com o seu bom humor, os seus excelentes diálogos e a qualidade de um excelente elenco.
Foi um dos maiores sucessos da Rede Globo, e por cá aconteceu o mesmo, com o público a ficar completamente fascinado com tudo, com os mistérios da caixa branca da Perpétua, ou da Mulher de Branco, a divertir-se com as malandrices de Osnar, os comentários de dona Milú ou então com os ataque de dona Amorzinho.
Baseado no romance Tieta do Agreste, de Jorge Amado, a telenovela foi escrita por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzohn, que modificaram algumas coisas em relação ao livro, como a supressão de algumas personagens, a criação de outras (como a Mulher de Branco), e mudando a história por trás de outras, como no caso de Imaculada, que passa de prostituta a uma virgem ingénua e esperançosa. A caixa branca de Perpétua é outro exemplo da liberdade criativa dos escritores, tentando assim retirar alguma da carga adulta e mais pesada do romance.
Com 196 capítulos, apresentou assim uma trama leve e que se desenvolvia a bom ritmo, tendo sido transmitida no horário das 20 pela Rede Globo, entre 14 de Agosto de 1989 e 31 de Março de 1990, por cá a RTP emitiu a novela pelas 20h15, entre Outubro de 1990 e Maio de 1991. Na altura foi alvo de muita reclamação por parte de telespectadores mais conservadores, que chegaram a exigir a sua retirada do ar.
A história passa-se em Santana do Agreste, um vilarejo isolado, que vive alimentado por um gerador (que se desliga às 22h) e que recebe os seus visitantes e correio numa carrinha que nem sempre funciona a 100%. No começo vemos vários flashbacks que mostram como Tieta (Claudia Ohana nos flashbacks e Betty Faria na trama principal), é escorraçada da cidade pelo seu pai Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), que odeia o seu modo libertino de viver a vida e que vai contra os seus princípios de vida, a pastorear as suas cabritas.
Aliás, a alcunha dela era de cabrita, a forma como os jovens do sexo masculino a tratavam, e mesmo quando regressou rica e poderosa, era assim desta forma carinhosa que personagens como Osnar (José Mayer) lhe chamavam. Osnar fazia parte dos 4 cavaleiros, um grupo de galãs divertido que incluía ainda Timóteo D’Alamberti (Paulo Betty) que se tinha casado com a irmã mais nova de Tieta (que adorava telenovelas e radionovelas), e que sofria muito do estômago, Reginaldo Faria dava vida a Ascânio de Trindade, um político sonhador e por fim tínhamos Amintas Feitosa (Roberto Bonfim), um comerciante da cidade que tentava dar sempre consolo a viúvas beatas como a dona Amorzinho (Lilia Cabral).
Amorzinho e Cinira (Rosane Gofman), eram duas beatas lideradas por Perpétua (Joana Fomm), a irmã mais velha de Tieta, que se veste toda de preto e tem esperança que o seu filho mais velho Ricardo (Cássio Gabus Mendes) se torne padre. Quando Tieta regressa à terra natal, rica e poderosa, vê-se envolvida numa família que saliva pelo seu dinheiro, e Perpétua não é excepção, empurrando o seu filho para a sua irmã, na esperança que esta se afeiçoe a este e lhe deixe tudo.
O problema é que começa aqui uma relação incestuosa, muito polémica para a altura que passou por cá, e uma das tramas principais da novela. Mas existiam outras histórias interessantes, tínhamos o capitão Dário (Flávio Galvão) que adora viver naquela paz, e fará tudo para a conservar, sem saber que a sua mulher era a misteriosa mulher de branco, que fazia suspirar todos os homens da cidade.
Armando Bógus dava de novo vida a um vilão asqueroso, de seu nome Modesto Pires, que mantinha uma amante chamada Carol (Luiza Tomé), e que deram nas vistas com os seus momentos “Senta aqui Carol, upa la la”. O veterano Ary Fontoura era o Coronel Arthur da tapitanga, que mantinha um harém de rolinhas, para satisfazer os seus prazeres sexuais, mas que encontrou alguns problemas quando acolheu Imaculada (Luciana Braga), que conseguiu permanecer virgem e driblar as intenções do velho coronel.
Carmosina (Arlete Salles) era a funcionária dos correios, e solteirona, que juntamente com a sua mãe Dona Milu (Miriam Pires) sabiam logo de todas as novidades da cidade, e quando não sabiam, opinavam e ficou famoso o bordão de dona Milu, o “Mistériooooo…”. Entre outras personagens tínhamos ainda o Bafo de Bode, que era o bêbado da cidade, o motorista da Marinete Jairo (Elias Gleizer), o Turco dono do boteco onde iam beber, a enteada de Tieta, que se decobriu ser na verdade uma ex prostituta, ou ainda as prostitutas da cruz vermelha.
Diverti-me muito com esta novela, revendo com prazer quando foi repetida pela SIC (no final da tarde, já noutros tempos menos conservadores) e no canal GNT. Uma maravilhosa banda sonora, um genérico sedutor e uma história fantástica e bem divertida.
Quem mais foi fã desta grande novela?