Uma das figuras mais populares das revistas aos quadradinhos, o Zé Carioca foi um sucesso no Brasil e em Portugal, onde também éramos fãs das aventuras deste bom malandro. Uma criação do próprio Walt Disney, teve a sua primeira aparição numa curta metragem em 1942, tendo tido depois uma longa vida nas revistas da editora Abril.
Numa altura em que se vivia sob o espectro da Segunda Guerra Mundial, personalidades como Nelson Rockefeller sugeriram a Walt Disney criar algo que ajudasse a granjear aliados, surgindo assim em 1943 o filme Saludos Amigos, que mostraria o Pato Donald com um amigo do México, chamado Panchito, um da Argentina com o nome Gauchinho voador e do Brasil, surgia o Zé Carioca, Com aquela simpatia típica do brasileiro, a personagem sobressaiu mais do que as outras, mostrando aquele jeitinho desenrascado de quem tentava evitar ao máximo o trabalho, e privilegiasse mais o Samba e o Futebol.
Trajando paletó castanho, gravata preta e umas calças azuis, ficou conhecido também pelo seu chapéu palheta e guarda chuva preto, estando sempre prevenido para se proteger das chuvas tropicais. Começou a aparecer em tiras de jornais. com histórias de artistas e argumentistas americanos, sendo logo criadas personagens como o Rocha Vaz e a sua filha Rosinha, o seu amigo Nestor e o seu primeiro rival, Luís Carlos.
Deixou de ser publicado em 1945, mas conheceu nova vida no seu país, quando a editora Abril começou a publicar as revistas da Disney. Foi o co-protagonista da primeira capa do Pato Donald no Brasil, em 1950, mas só teve direito a revista própria em 1961, com histórias desenhadas por artistas brasileiros, neste caso Jorge Kato. Morando no Rio, começou logo a mostrar todas as suas características, de um bom malandro que filava refeições em diversos locais, que pedia fiado em todo o lado e que evitava o trabalho a todo o custo, preferindo paquerar as garotas que lhe apareciam à frente.
Ainda com poucos artistas brasileiros, a editora Abril alternava as histórias originais com as que vinham dos Estados Unidos, ou então fazendo algo que era um pouco comum, pegar numa história de alguma personagem como o Mickey e alterar as coisas, fazendo com o que o carioca aparecesse em Patopólis ou em histórias com o Pateta e ganhando também dois sobrinhos, o Zico e o Zeca, que substituíam assim os sobrinhos do rato.

A sua personalidade foi se desenvolvendo, ganhando outros traços como o de mentiroso e preguiçoso, e os vários artistas brasileiros que se envolveram na criação das suas historias, começaram a desenvolver todo um meio ambiente ao seu redor, assentou a sua barraca num morro de Vila Xurupita, ganhou outras personagens coadjuvantes como Afonsinho e Pedrão, e deu-se destaque a um novo rival para a sua amada Rosinha, o Zé Galo. O desenhista Renato Canini levou a coisa mais além, começando a tradição de primos de várias partes do Brasil, começando com o Zé Paulista, e fez o papagaio abandonar o seu guarda chuva e começar com negócios como a mítica agência de detectives Moleza.
No final dos anos 70 a revista era um sucesso total, lembro-me dos diversos formatos, um pouco maior do que as outras revistas da Disney, com menos páginas, até assentar numa com um pouco mais de páginas e do mesmo tamanho das outras. Achava sempre piada à numeração alta da revista, chegou rapidamente aos milhares e era comum ver esses números estampados na capa. Começaram também a surgir muitos almanaques, edições especiais ou Disney Especiais onde o Carnaval tivesse destaque, e com isso o Zé Carioca também.
O argumentista Ivan Saidenberg começa a escrever para a revista, sendo responsável juntamente com Canini da criação de Morcego Verde. O casaco, guarda chuva e charuto desapareciam, dando espaço primeiro a uma camiseta branca, e mais tarde a umas camisas estampadas e boné, isto já nos anos 90. Curioso realçar que a Holanda publicou também aventuras desta personagem, sendo que são muito apreciadas por lá.
Foi sempre um dos meus preferidos, adorava as histórias com a Anacozeca, as disputas com Zé Galo eram sempre bem divertidas, assim como as suas artimanhas para ganhar algum dinheiro explorando os seus amigos. Não era muito fã dos seus sobrinhos, e a fase camisa estampada e boné afastou-me da personagem. Quem mais era fã?