Hoje recordo uma equipa que nos anos 90 ousou desafiar o poderio do Barcelona e do Real Madrid na liga espanhola, o Desportivo da Corunha. O clube foi conseguindo alguns nomes de peso, e deu luta durante a década de 90, conseguindo ficar no segundo lugar por mais que uma vez, e vencendo a La Liga no final da década.
O presidente Augusto César Lendoiro tinha grandes planos para o Corunha, desde que foi eleito presidente em 1988, ainda o clube militava nas divisões inferiores. O Super Depor nasceu em 1992-93, depois de uma primeira temporada sem grande história na liga principal, com o clube a converter-se numa SAD, e com a contratação de jogadores como Bebeto e Mauro Silva, que vinham assim juntar-se ao plantel orientado por Arsenio Inglesias, que contava ainda com nomes como Djukic ou Fran.
A equipa consegue um fantástico terceiro lugar, com Bebeto a ficar com o título individual de melhor marcador, e Llaño a levar o de guarda redes menos batido. Lendoiro conseguiu manter as suas estrelas e a coluna vertebral do plantel para a temporada seguinte, contratando apenas um ou outro jogador que viesse acrescentar algo ao clube, como no caso de Donato. E foi essa temporada que fez com que muitos começassem a olhar com outros olhos para o clube, e o apelido Super Depor foi ganhando força.
O Corunha chegou à liderança à 12ª jornada, mantendo-se aí até quase o final de temporada, onde perdeu-a de forma dramática, num jogo contra o Valência, onde Djukic falha uma grande penalidade.. no último minuto.. dando o título ao Barcelona. Os adeptos ficaram incrédulos mas aplaudiram a equipa, tinha sido um feito fantástico e prometia algo que todos pensavam ser impossível, a conquista do campeonato.
Com uma equipa que jogava um futebol de ataque, sendo o clube que marcou mais golos nessa temporada, a temporada de 94/95 trouxe a conquista da Taça do Rei, para além dos jogadores Kostadinov e o veterano Julio Salinas. Todos concordavam que o maior sucesso era a equipa continuar sempre com o mesmo treinador e jogadores chave, Liaño, Fran, Aldana, Donato, Mauro Silva, Bebeto, Manjariñ e Rekarte continuavam de pedra e cal e com fome de títulos. Por isso existiu algum receio quando Arsenio Inglesias anunciou que essa seria a sua última temporada, e que bela forma de sair, e seria o galês John Toshack a substitui-lo.
As coisas não correram de feição no campeonato, com a primeira vez em 4 anos a terminar abaixo do 4º lugar, apesar de ter vencido a supertaça espanhola e ter-se portado bem na Taça das Taças, alcançando a meia final. Desentendimentos entre o treinador e o presidente, fizeram com que este ficasse apenas uma temporada, sendo que em 1996/97 veio o brasileiro Carlos Alberto Silva para o seu lugar.
Esse ano trouxe também a famigerada Lei Bosman, com a equipa a contratar estrangeiros em grande quantidade, com destaque para Rivaldo, Songo’o e Naybet. Conseguiram atingir a terceira posição, mas isso não impediu a que o treinador fosse despedido na temporada seguinte, uma das piores do clube nos anos 90, sendo que a única coisa boa foi a contratação de Djalminha.
Mas o final da década traria aquilo que andava a fugir ao clube, o titulo de campeão. Sob a batuta de Javier Irureta, o clube traria assim alegria aos seus adeptos e ao seu presidente, recompensando também alguns dos jogadores que estavam com o clube quase desde o começo da década, como Fran ou Mauro Silva, ou outros recém chegados, como Roy Makaay ou Diego Tristán. Mais de duzentas mil pessoas festejaram o título, com 80 mil a encherem a praça para receberem os jogadores.
A equipa continuou em força internamente, ficando na segunda posição nas duas temporadas seguintes, e um terceiro lugar em 2004, o último ano desta fase do clube conhecida como Super Depor.
Confesso que me deu algum gozo ver este Corunha, apesar de ser um fã dos dois clubes de Madrid, e ver como uma equipa conseguia assim desafiar o poderio de dois gigantes. Quem mais foi fã?