Este é o 1500º post do blog, por isso decidi fazer nele uma pequena incursão pelo que foi a minha infância, e a de muitos que acompanham o blog. Espero que continuem por aí a viajar por memórias que nos fazem sorrir e pensar noutros tempos.
Lembro-me das brincadeiras no bairro durarem até de madrugada no verão, e como muitas vezes eram interrompidas pelos berros das nossas mães, a chamarem-nos para jantar. Nunca íamos na primeira chamada, e normalmente só cedíamos quando nos chamavam pelo primeiro e segundo nome, ou mesmo o nome completo, aí íamos logo a correr.
Brincávamos com walki-talkies, zarabatanas feitas de tubos de pvc, fazíamos pistas de caricas na terra, onde tínhamos também covas para poder jogar ao berlinde, íamos para a garagem de um fazer moches ao som de música rock ou ficávamos a ver um filme que tínhamos alugado no video-clube.
Bebíamos água directamente da mangueira, íamos roubar nêsperas e figos das árvores dos vizinhos, fartávamos de cair a andar de bicicleta ou carrinhos rolamentos, e andávamos sempre de joelhos esfolados ou nódoas negras. Depois berrávamos quando nos esfregavam o hirudoid ou a tintura de iodo.
Por casa, divertíamos-nos com jogos de tabuleiro como Monopólio, jogo da glória ou então com outros jogos como o Quem é Quem ou o Pulgas na cama. Não podia também faltar as discussões, tanto nestes jogos, como os outros, como o Mikado, onde pouco faltava para espetarmos uma das varetas no olho de outra pessoa.
Iamos para a escola a pé. ou de autocarro (cheguei a ter que apanhar dois, o 408 e o 404, duas lagartas da rodoviária nacional), a apanhar e comer amoras ou azedas pelo caminho, com mochilas carregadas de material, com destaque para o enorme bloco de papel cavalinho, a régua de 50cm da Molin, e os estojos de canetas rotring.
Na escola, as brincadeiras evoluíram dos jogos de escondidas ou apanhadas, para os corredores da morte, bate pé ou as idas ao poste, de tão má memória para os rapazes. Nos intervalos, andávamos a trocar cromos da mais recente caderneta de futebol, ou a falar de programas que tínhamos visto na tv, como a noite da má língua.
Não ligávamos muito a modas, mas também as tivemos, com destaque para uma onde as meninas andavam com umas meias até ao joelho, mesmo que tivessem as chamadas pernas de alicate. Os rapazes andavam com lenços no pulso, assim como algumas meninas, e depois tudo começou a prestar mais atenção as marcas que vestíamos, com as calças da Mustang, Uniform e Soviet a conquistarem toda uma geração.
Deixavanos de falar com os nossos amigos quando discutíamos, mas as coisas nunca duravam muito tempo, e rapidamente fazíamos as pazes. Andava-se sempre em grupos de 3,4 pessoas, íamos as papelarias comprar as revistas da moda, Bravo para uma geração, Super Jovem para outra, devorávamos juntos pastilhas Gorila, para agarrarmos o papel com o avião que nos faltava, ou pacotes de batatas da Matutano para agarrarmos o Fantasma que brilhava no escuro, ou os Tazos uns anos mais tarde.
Era comum estes alimentos virem com brindes, e o mais popular foi a colecção de autocolantes Tou’s do Bollycao, que todos queríamos para colar nos cadernos ou nos nossos quartos. Os cadernos eram muitas vezes decorados com recortes de jornais e revistas, ou autocolantes, e quando tínhamos paciência, até forrávamos com o resto do papel autocolante que tinha sobrado de encapar os livros escolares.
Nos quartos eram poster de estrelas de rock (Bon jovi nas meninas, Samantha Fox nos meninos, apenas para falar de uns), a acompanhar as colecções de latas refrigerante ou de uma qualquer colecção de brindes da altura.
Sim, já existia o bully, chamavam-nos todos os nomes e mais alguns, havia até uns que gostavam de acompanhar isso com alguma pancada, fosse a ligeira tortura dos piparotes nas orelhas ou calduços, a uma boa sova por nenhuma razão em particular.
Mesmo assim lá nos íamos aguentando, ou nos escondíamos a ler livros de BD, ou a ver séries de tv, e como em tudo na vida, os maus momentos eram alternados com bons momentos, Umas vezes tínhamos mais uns que outros, mas a vida é assim mesmo.
Eram outros tempos, mais ingénuos, que nos divertíamos com pouca coisa e tudo servia para brincarmos. Um simples pau podia ser uma pistola. um pedaço de giz servia para desenharmos no chão algo para jogarmos com os nossos amigos, e acreditávamos em tudo o que nos diziam, mas se calhar por isso tudo é que nos recordamos deles com saudades.