O Blog virou Site, e apesar de ainda não estar tudo finalizado, decidi começar a colocar já alguns posts, e para começar uma entrevista a uma das pessoas mais simpáticas da Rádio, o Paulo Fragoso.
Quem ouve a Rádio RFM conhece bem o nome Paulo Fragoso, uma das vozes que ajudou a construir a estação e a torná-la o que é hoje. Nascido em Lisboa, é uma pessoa bem humorada e um amante da praia e do mar, que adora viajar e estar com a sua família para uns momentos tranquilos e relaxados. As tardes da RFM são suas, e podemos o ouvir a dar-nos as melhores músicas do momento, no Top 25 RFM, vamos então conhecer um pouco melhor a adolescência e infância de Paulo Fragoso..
Ainda Sou do Tempo – O Paulo parece pertencer, como eu, à geração que cresceu na década de 80. O que era um dia normal para o jovem Paulo, a criança ou o adolescente?
Paulo Fragoso – Quando recordo momentos tão bons e especiais vividos enquanto criança/adolescente nessa década dourada a todos os níveis, volto a ser o puto que era nessa altura. Sou daqueles que faz parte dessa imensa maioria de indivíduos que têm uma relação deveras emocional com as memórias desses verdes anos. É impossível esquecer o dia em que a minha mãe me levou ao primeiro dia de escola na 1ª classe e a partir daí estava por minha conta e risco. “Já sabes o caminho, já não preciso de ir contigo”…e se era difícil chegar àquela escola pré-fabricada, com apenas duas salas de aula. Tinha que atravessar uma Estrada Nacional sem passadeiras, e passar por zonas em que nem a polícia lá entrava.
Depois de um dia de aulas, era aproveitar para brincar na rua depois dos TPC’s feitos, se o tempo ajudasse. Se não então era altura para correr para o sofá e esperar que a RTP iniciasse a e emissão com os desenhos animados da praxe. Caso as condições meteorológicas fossem adversas em demasia, era em casa de algum dos amigos da rua, amigos esses que ainda hoje preservo e em que sempre que nos reunimos vem à conversa as boas memórias desses tempos em que fomos tão felizes e não sabíamos. Em época de férias grandes ( e naquela época eram mesmo mesmo grandes porque as aulas nunca arrancavam na data prevista, fosse pela escola estar em obras, fosse por problemas burocráticos, fosse até pela sobrelotação de alunos que obrigava a direção a fazer uma ginástica para colocar os excedentes noutro estabelecimento), até uma certa idade era rua, rua e mais rua o meu poiso. Desde que me levantava até me deitar. Só ia a casa para comer quando a minha mãe me chamava. Na fase adolescente aí eram 3 meses seguidos a ir para a praia da Fonte da Telha à boleia (sim, à boleia!), dias inteiros de banhos de mar e sol, muita futebolada e piscar de olhos aos biquinis que passavam, nunca esquecendo o “tijolo” para dar música a toda a praia.
AST – Quais as melhores memórias desses dias? Fez algumas das coisas habituais, como tocar à campainha de portas e fugir, andar carrinhos rolamentos ou trincar azedas? Se puder contar alguma história engraçada desses tempos..
PF – Fiz tudo isso e muito mais. Nessa altura também havia “modas”. Lembro-me de jogarmos aos “Jogos sem fronteiras” na minha rua. Éramos muitos, fazíamos equipas e inventávamos os jogos ,dignos de serem mesmo alvo de cobiça da produção desse famoso concurso da tv. A imaginação não tinha limites.
Houve também a fase do hóquei em patins. Portugal sempre conquistou títulos nessa modalidade e isso levou-nos a jogar também na minha rua… sem patins, claro, que isso era um luxo só acessível a um da minha rua, mas com muita imaginação, senão vejamos: o ringue era um pátio de cimento coberto de areia “pedida” emprestada a uma qualquer obra de construção por perto; os sticks eram restos de ripas de madeira que íamos pedir à serração onde, por acaso, o meu tio era carpinteiro. Tínhamos o “trabalho” de lixar a madeira por causa das falhas, na zona das mãos colocar uma fita adesiva especial para não aleijar e já estava. A baliza era um caixote de madeira da fruta da mercearia da rua e as bolas eram as dos matraquilhos da taberna do Ti Filipe que, coitado, quando se apercebia que só colocávamos a moeda de 1 escudo para lhe levar as bolas todas, já era tarde demais. E como se protegia o guarda-redes? Jogava sem proteção, até ao dia que levou com uma bola na cara, o que era inevitável mais sticada, menos sticada. Solução: EUREKA! alguém se lembrou que aquela caixa cilíndrica de detergente da máquina de lavar roupa era o ideal para pôr cabeça abaixo de quem fosse eleito guarda-redes (é preciso dizer quem era sempre o eleito?). Era só abrir espaço nos olhos e na boca, por motivos óbvios, e já estava protegido. Quem não ficou bem na fotografia foi o autor porque teve a ideia “genial” de despejar todo o pó, todo o detergente…para dentro da máquina de lavar!TODO!! E era muito! Resultado: esteve um mês de castigo sem ir à rua. (Sim, para os mais sensíveis: éramos castigados, levávamos tareias da mãe e não foi por isso que nos tornámos uns desgraçadinhos infelizes ou uns parasitas da sociedade!).
Havia tantas outras histórias e “brincadeiras” para contar mas não me escuso a contar só mais esta: no carnaval as brincadeiras não eram as mesmas de hoje. Tínhamos à disposição as raspas, os estalinhos… e as bombinhas. E um dos nossos passatempos era ir para a varanda de um de nós, era quase sempre no 3º andar, e lançar uma bombinha para a frente de quem passava na rua que apanhava o maior susto da sua vida. Enfim, coisas de putos imberbes dos gloriosos anos 80.

AST – Como decidiu que queria trabalhar na rádio? O que o fez querer seguir essa vida?
PF -Como a maior parte dos miúdos daquela época, eu queria era ser futebolista. E ainda tentei, ainda joguei nas camadas jovens do Atlético Clube de Arrentela durante 4 anos numa altura em que a Rádio surgiu por acaso na minha vida. Um dos meus brinquedos favoritos enquanto criança foi um aparelho de rádio do meu avô, um Philips a válvulas que só debitava Onda Média e Onda Curta e aquela caixinha sempre me encantou mas nunca ao ponto de querer ser alguém que também falasse para aquela caixa. Mas o que é certo é que tive a sorte de ter como colega de turma alguém que era filho do dono de uma rádio pirata. Tanto o chateei para ir à Rádio que um dia lá fui, comecei por ficar como assistente de produção (só colocava os telefonemas dos “discos pedidos” no ar) até ao dia em que me pediram para ir ao microfone. E nunca mais o larguei. O “bichinho da rádio” existe e é muito forte.
AST – Quais eram os programas de rádio que ouvia na sua infância e adolescência?
PF – Rádio era o que mais ouvia nesses anos 80. A Rádio Comercial era quem dava aos amantes de música tudo o que era top e novidade. Cada um dos programas tinha uma personalidade, uma imagem de marca, um estilo. “TNT-Todos No Top“, “Discoteca“, “Som da Frente“, “Rock Em Stock“, são alguns exemplos. Depois a noite era sempre com o “Oceano Pacifico” que começou na Rádio Renascença antes de transitar para a RFM quando esta foi criada. E não posso esquecer o “Despertar” que acordava o país e que os meus pais ouviam e eu também por arrasto.
AST – Qual a sua personalidade preferida na rádio?
Não consigo escolher apenas um. Tenho que destacar nomes como os de Luis Filipe Barros, António Sérgio, Rui Pêgo, Júlio Isidro, António Sala, Adelino Gonçalves, João Chaves, Marcos André, Paulino Coelho, Cândido Mota, Ribeiro Cristóvão.
Cada um com o seu estilo muito próprio, cada uma na sua área.
AST – O programa top 25 da RFM é já ele também um clássico, como é conduzir esse programa, como surgiu a ideia para o mesmo e o que sente a cada programa gravado?
PF – É o que me dá mais trabalho mas é também o que me dá muito gozo fazer porque exige muita produção, muita pesquisa, muito do chamado entre nós de “show-prep”, ou seja, uma preparação muito especifica que começa com a contagem dos votos dos ouvintes que é o ponto de partida para a elaboração da lista. Há toda uma pesquisa a fazer para encontrar noticias/curiosidades dos artistas, efemérides, celebrações de alguma data em particular, produção de sons que possam ilustrar e/ou complementar um momento ou a música.
É gratificante saber que os finais de tarde de domingo há todo um país atento a esta mítica tabela que reflete, no fundo, o que de mais sucesso se ouve na RFM, que é o reflexo dos gostos de quem nos ouve. O Top 25 RFM existe praticamente desde o nascimento da RFM, já teve vários apresentadores, eu sou o mais recente e é um privilégio apresentá-lo e sentir o feedback e o entusiasmo dos ouvintes.

AST– Quais são as suas influências musicais?
PF – Eu sou um “roqueiro” por natureza. Gosto das guitarras do rock. Vou do rock clássico ao mais independente, mas tento ouvir um bocadinho de tudo e estar atualizado. Mas também me perco muitas vezes por sons de outros tempos, nomeadamente da década de 80. É a minha década de eleição e não me canso de ouvir tudo o que por essa altura saiu. Aliás, as minhas sessões de DJ em festas, são uma viagem até aos meus tempos infanto-juvenil com a descoberta e a vivência de toda uma cultura musical que ficará para sempre eternizada. Adoro os Eighties!!!!
AST – Vamos a um pequeno jogo:
Pião ou berlindes? Berlindes!
Modern Talking ou Bon Jovi? Bon Jovi
Conan o rapaz do futuro ou Vickie o pequeno viking? “Vickie” (foi a minha primeira coleção de cromos terminada quando o meu querido avô materno foi de propósito ao Rossio comprar os cromos avulso que me faltavam 🙂)
Tio Patinhas ou Turma da Mônica? Tio Patinhas
SIrumba ou Macaquinho do Chinês? Sirumba e Macaquinhos do Chinês!
AST – Caso tenha algum novo projecto em mente, na rádio ou fora, gostaríamos imenso de partilhar e dar a conhecer a todos.
PF -Espero ainda este ano começar a dar formação na minha área. As novas gerações têm muita paixão pela Rádio, quer como ouvintes, quer como pretendentes a radialistas e se puder passar-lhes a minha paixão e conhecimento, sei que estarei a garantir que o tal bichinho da rádio vai continuar a andar por aí por muitos e bons anos

Fotos retiradas de https://rfm.sapo.pt/