
Entrevista Paulo Fragoso
02/11/2023No início dos jogos eletrónicos, nas décadas de 1970 e 1980, surgiram títulos lendários que ainda hoje têm um lugar especial na memória dos jogadores. Foi um período de jogos retro inovadores, onde cada lançamento lançava novas fundações para a indústria em ascensão. Neste texto, vamos fazer uma viagem no tempo e relembrar os melhores jogos dos anos 70 e 80, autênticos marcos da cultura retro e que moldaram géneros inteiros. Prepare-se para uma grande dose de nostalgia e descubra (ou relembre) o motivo pelo qual esses jogos dos anos 70 e 80 ainda são celebrados por fãs de todas as idades.
Computer Space (1971)
Computer Space, lançado em 1971, foi o primeiro jogo arcade comercial da história. Este jogo de combate espacial, criado por Nolan Bushnell e Ted Dabney (que posteriormente fundariam a Atari), apresentava um cenário futurista e desafiava os jogadores a comandar uma nave em uma luta contra objetos voadores. Apesar de Computer Space não ter sido um grande sucesso, em parte devido à sua complexidade para o público da época, o seu lançamento pioneiro abriu caminho para o setor de jogos eletrónicos. Trata-se de um título pioneiro que evidenciou o potencial do entretenimento digital além dos laboratórios universitários, estabelecendo os fundamentos para as arcades subsequentes.
The Oregon Trail (1971)
No começo dos anos 70, surge The Oregon Trail, um jogo bastante distinto dos arcades: uma aventura pedagógica lançada em 1971 e criada por três educadores dos Estados Unidos. Originalmente projectado para instruir estudantes sobre história, este jogo de texto reproduzia a penosa travessia dos colonos pelo caminho de Oregon no século XIX. O jogador fazia escolhas de sobrevivência, caçar, cruzar rios, administrar recursos e frequentemente deparava-se com o temido aviso "You died of dysentery" ("Você faleceu de disenteria"). The Oregon Trail é visto como uma das primeiras experiências de simulação de sobrevivência e um marco na história dos jogos educativos. Nos Estados Unidos, incorporou-se à cultura popular, marcando a infância de muitas pessoas. Apesar de não ter o mesmo impacto cultural em Portugal, a sua relevância histórica é indiscutível, evidenciando que os jogos eletrónicos podiam ser utilizados para instruir e entreter simultaneamente.
Pong (1972)
Pong (1972) é indispensável ao se falar dos anos 70. Este modesto simulador de ténis de mesa marcou o início do grande sucesso comercial dos jogos. Pong, um jogo criado pela Atari, consistia em dois jogadores movimentando barras verticais (raquetes) em lados opostos do ecrã, arremessando uma bola quadrada. A mecânica era simples, mas logo se transformou numa febre mundial, com máquinas Pong invadindo salões de jogos, bares e cafés. A sua enorme popularidade demonstrou que existia um mercado ávido por entretenimento eletrónico. Pong marcou o início da era dourada dos arcades e sua influência foi tão marcante que gerou vários clones e variações. Além de ser um jogo, transformou-se em um símbolo cultural e estabeleceu as bases para a indústria dos jogos como a conhecemos atualmente.
Breakout (1976)
Breakout de 1976, é mais um clássico da Atari que contribuiu para a diversidade de géneros nos arcades. Desenvolvido por Nolan Bushnell e Steve Bristow, com a engenharia de Steve Wozniak (cofundador da Apple) por trás do protótipo, Breakout propunha ao jogador o controlo de uma barra móvel pequena para arremessar uma bola contra um grupo de tijolos no topo da tela. Cada tijolo derrubado valia pontos e a meta era remover todos os tijolos sem permitir que a bola caísse. Com imagens coloridas e um nível de dificuldade crescente, Breakout era cativante, fazendo sucesso em máquinas arcade e posteriormente em consolas domésticas. Este jogo básico deu início ao estilo "quebra-cabeças", que posteriormente inspirou jogos como Arkanoid nos anos 80. Ademais, é um marco na história da tecnologia por ter contado com a participação de Steve Jobs e Wozniak no seu desenvolvimento, vinculando o começo da Atari aos primeiros passos da Apple.
Sea Wolf (1976)
Em 1976, Sea Wolf surgiu como um dos jogos nesta década mais inovadores do seu tempo. Este jogo, desenvolvido pela Midway, simulava o controlo de um submarino naval. O arcade de Sea Wolf possuía um periscópio real que o jogador usava para apontar e disparar torpedos contra navios adversários que apareciam na tela. O jogo com um tempo determinado para afundar o máximo de alvos, adicionou um componente de pressão e pontuação acelerada. Sea Wolf destacou-se por proporcionar uma visão em primeira pessoa, algo inédito naquela época, e pelos seus controlos únicos que intensificavam a imersão. Tornou-se um ícone dos salões de jogos, mostrando como experiências de jogo inovadoras (como o uso de um periscópio) podiam atrair a atenção do público, deixando a sua marca na história.
Zork (1977)
Enquanto os arcades se destacavam pelos gráficos básicos, nos computadores pessoais, surgia o Zork (cuja primeira versão foi lançada em 1977). Zork é um dos primeiros jogos interativos de aventura baseados em texto a conquistar popularidade. O jogo, que não possuía gráficos, apenas descrições escritas e um leitor de teclado para digitar comandos, apresentava o jogador como um explorador de masmorras num extenso universo subterrâneo de fantasia. O jogador lia descrições do cenário e anotava instruções como "seguir para o norte" ou "obter uma lanterna" para avançar. A complexidade da trama, o humor subtil e os quebra-cabeças engenhosos de Zork conquistaram os jogadores, demonstrando que os jogos poderiam proporcionar histórias ricas mesmo sem a presença de imagens. Lançado pela Infocom no começo dos anos 80, estabeleceu o género de aventura de texto e influenciou uma geração de programadores de jogos de aventura gráfica que surgiriam nos anos seguintes. Trata-se de um clássico que enfatiza a criatividade e a imaginação na era anterior aos gráficos sofisticados.
Space Invaders (1978)
Em 1978, Space Invaders sacudiu o universo dos jogos. Este shooter espacial básico, criado pela Taito, no qual o jogador controla um canhão laser que se move lateralmente para eliminar filas de aliens que descem o ecrã, transformou-se num fenómeno cultural mundial. Space Invaders marcou o início oficial do período dourado dos arcades, atraindo milhões de jovens para jogar e estabelecer recordes de pontuação. O seu sucesso no Japão foi tão estrondoso que a lenda afirma que houve uma escassez de moedas de 100 ienes, devido ao uso excessivo nas máquinas! Com efeitos sonoros perturbadores que se intensificavam conforme os alienígenas desciam, o jogo gerava uma atmosfera de tensão singular. Space Invaders estabeleceu o estilo shooter e inspirou diversos títulos posteriores. Até aos dias atuais, os pequenos alienígenas pixelizados integram o imaginário dos jogos, representando o auge e a ascensão deste novo formato de entretenimento.
Lunar Lander (1979)
No término dos anos 70, a Atari apresentou Lunar Lander (1979), um jogo que instigava os jogadores de uma maneira única com elementos de física e precisão. No Lunar Lander, controlamos um módulo lunar que desce à superfície lunar, representado por meio de gráficos vetoriais básicos (linhas brancas sobre fundo preto). A meta é aterrar de maneira suave, gerindo os retrofoguetes e o combustível limitado para pousar em um local seguro do terreno acidentado. Cada pouso bem-sucedido concede ao jogador pontos (e uma nova missão, mais complexa), o passo que uma manobra mal planejada leva a um desastre. O jogo sobressaiu pela sua representação fiel da gravidade e da inércia, requerendo uma manipulação meticulosa dos controlos, incluindo um grande botão de thruster para regular a força de impulso. Lunar Lander destacou-se por ser o primeiro jogo de arcade da Atari a empregar gráficos vetoriais e por proporcionar várias perspectivas (o jogo ampliava a imagem ao se aproximar da superfície, um recurso inovador naquele tempo). Apesar de ter sido rapidamente ofuscado pelo sucesso de Asteroids (que veio logo de seguida), Lunar Lander estabeleceu-se na história como um dos primeiros jogos de simulação física e um dos mais apreciados entre os entusiastas do espaço e ciência.
Asteroids (1979)
Asteroids, também de 1979, tornou-se um dos jogos de maior sucesso de todos os tempos. Desenvolvido pela Atari, coloca o jogador à frente de uma nave triangular pequena, perdida num campo de asteróides no espaço profundo. Com imagens vetoriais claras, a tela em preto e branco enche-se de objectos que se movem em todas as direções. A tarefa do jogador é básica, porém viciante, disparar e partir os asteróides em partes cada vez menores, prevenindo colisões, enquanto ocasionalmente discos voadores atravessam o ecrã e disparam contra a embarcação. O desafio intensifica-se à medida que os destroços se multiplicam, exigindo um controlo preciso da nave, que pode girar 360 graus e utilizar o impulso para se mover (mas tenha cuidado para não perder o controlo inercial!). Asteroids introduziu movimentos sem gravidade e um sistema de pontuação alta competitiva que motivava os jogadores a baterem recordes. O êxito foi impressionante, vendeu milhares de máquinas e tornou-se o jogo mais rentável das arcades em 1980, superando o próprio Space Invaders em popularidade nos Estados Unidos. Ainda hoje, é um ícone dos videogames devido à sua jogabilidade sofisticada e design minimalista, mantendo-se divertido mesmo após várias décadas.
Galaxian (1979)
Galaxian, encerrando a lista dos anos 70 e distribuído no Ocidente pela Midway, chegou em 1979 para elevar o nível dos jogos de tiro espaciais. Galaxian, inspirado em Space Invaders, exibiu gráficos coloridos e uma ação mais ágil. Novamente, o jogador comanda uma nave na parte inferior do ecrã para lutar contra invasores alienígenas, porém, desta vez, os adversários sobressaem em mergulhos kamikaze individuais, disparando enquanto avançam contra a nave do jogador. Esta estratégia de ataque suicida introduziu um novo grau de desafio e emoção. Galaxian também exibiu habilidades técnicas aprimoradas para a época, com sprites coloridos e efeitos sonoros mais elaborados, evidenciando a rápida progressão dos arcades. O jogo obteve um enorme sucesso, abriu caminho para a sequência ainda mais famosa, Galaga, lançada em 1981. Galaxian teve um papel crucial ao demonstrar que era viável melhorar a fórmula de Space Invaders, intensificando a velocidade e a tonalidade da ação nos arcades. É reconhecido como um marco significativo na evolução dos shoot ’em ups e um predileto dos admiradores do estilo retro.
Pac-Man (1980)
Pac-Man (1980) fez a sua entrada triunfal na década de 80. Este jogo de labirinto com um boneco amarelo, desenvolvido por Toru Iwatani na Namco, transformou-se num dos ícones mais populares dos videogames. No jogo Pac-Man, o jogador conduz o personagem redondo de boca aberta por um labirinto, comendo pastilhas enquanto tenta escapar de quatro fantasmas coloridos (Blinky, Pinky, Inky e Clyde) que o seguem. A meta é consumir todas as pastilhas do labirinto a fim de avançar para o próximo nível, usando estrategicamente "power-ups" (pastilhas maiores) que por um período, possibilitam ao Pac-Man virar o jogo e caçar os fantasmas. A fórmula simples, porém extremamente viciante, combinada com personagens cativantes e um design de fácil acesso, conquistou uma ampla audiência, incluindo muitos que até então não tinham interesse em jogos. Pac-Man rapidamente transcendeu os limites dos jogos arcade, produziu uma canção de sucesso nas rádios ("Pac-Man Fever"), animações, uma infinidade de merchandising e estabeleceu-se como o primeiro grande mascote da história dos videogames. O seu efeito foi enorme a ponto de, nos anos 80, ganhar reconhecimento mundial e atuar como embaixador da cultura dos jogos eletrónicos. Ainda hoje, o come-come amarelo é associado à diversão arcade e à saudosa lembrança dos anos 80.
Donkey Kong (1981)
No ano de 1981, a Nintendo causou um impacto global com Donkey Kong, um jogo que não apenas introduziu um novo género de plataforma, mas também marcou a aparição de uma figura lendária. Como Jumpman (mais tarde conhecido como Mario), o jogador deve escalar estruturas de andaimes, desviando de barris e outros itens lançados por um grande gorila, o Donkey Kong, a fim de salvar a sua namorada Pauline. Foi um dos primeiros jogos de plataforma de grande êxito, introduzindo a ideia de saltar sobre barreiras e avançar de nível, algo revolucionário naquele tempo. O jogo também destacou-se por ter iniciado a carreira do designer Shigeru Miyamoto, além de apresentar Mario, que se tornaria o símbolo da Nintendo e o personagem mais identificável do universo dos jogos. A popularidade de Donkey Kong nas arcades levou a Nintendo ao mercado ocidental, dando origem a franquias amadas (tanto a série Donkey Kong quanto a série Mario tiveram origem aqui). Consolidou-se como um clássico dos anos 80, com o seu design cativante, dificuldade desafiadora e personagens inesquecíveis. Ele até inspirou um famoso documentário ("The King of Kong") décadas mais tarde, demonstrando sua persistência.
Frogger (1981)
Frogger, outro jogo de arcade de 1981, também representa bem a era dourada dos videojogos. Criado pela Konami, parte de um princípio tão básico quanto brilhante, auxiliar um sapo a voltar para casa. Para isso, o jogador deve conduzir o sapinho por uma estrada movimentada repleta de veículos e, posteriormente, por um rio repleto de troncos flutuantes, jacarés e tartarugas, prevenindo riscos a cada passo. Frogger encantou os jogadores com a sua jogabilidade simples e cativante, demonstrando agilidade e precisão nos reflexos para evitar ser atingido por um veículo ou cair na água. Cada sapo levado para a casa no topo da tela simboliza um pequeno triunfo, e completar uma série de sapos conduz a etapas mais ágeis e desafiadoras. Com gráficos vibrantes e uma música cativante, transformou-se num fenómeno cultural, aparecendo em séries de TV como "Seinfeld" anos mais tarde. A longevidade de Frogger deve-se à sua simplicidade cativante, fácil de aprender, mas desafiador para dominar, que o transforma num clássico intemporal que continua a ser jogado e reinventado em novas versões.
Tetris (1984)
Sem Tetris (1984), o quebra-cabeças que encantou o mundo, nenhuma lista de clássicos dos anos 80 estaria completa. Desenvolvido por Alexey Pajitnov, um engenheiro de computação soviético, Tetris surgiu num computador em Moscovo e envolve a empilhamento de peças geométricas que caem do topo do ecrã, encaixando-as para formar linhas horizontais. Cada linha completa desvanece, abrindo caminho para prosseguir com o jogo, à medida que a velocidade de queda das peças se intensifica progressivamente. O princípio é bastante básico, porém a procura por uma simetria geométrica rapidamente se transforma num vício - "apenas mais uma peça" e lá se vão horas de jogo. Durante a Guerra Fria, Tetris cruzou fronteiras e propagou-se globalmente, atingindo as arcades e quase todas as plataformas de jogos disponíveis. O auge aconteceu no final dos anos 80, com o lançamento de Tetris para o Game Boy (1989) da Nintendo, que se estabeleceu como o jogo portátil de maior sucesso, vendendo milhões de cópias. A sua música de fundo tornou-se imediatamente reconhecível e o jogo em si transformou-se em sinónimo de quebra-cabeças. É frequentemente mencionado como um dos jogos mais viciantes e impecáveis em termos de design, demonstrando que gráficos básicos e jogabilidade de alta qualidade são suficientes para criar um clássico intemporal.
The Legend of Zelda (1986)
Em 1986, a Nintendo disponibilizou um jogo para a consola NES que transformou o género de aventura nos videogames: The Legend of Zelda. Desenvolvido por Shigeru Miyamoto e a sua equipa, Zelda levava os jogadores à lendária terra de Hyrule, onde o jogador encarnava o jovem herói Link, com a tarefa de juntar os pedaços da Triforce e resgatar a Princesa Zelda do maligno Ganon. Este jogo destacou-se por proporcionar um amplo universo aberto para exploração, repleto de masmorras labirínticas, seres, quebra-cabeças e itens ocultos. Pela primeira vez numa consola, os jogadores tinham a capacidade de registrar o seu progresso (graças a uma bateria interna no cartucho), uma inovação revolucionária que possibilitava a participação numa aventura épica de longa duração. The Legend of Zelda harmoniza ação e resolver enigmas de maneira notável, estimulando a exploração não linear, a descoberta de cada gruta ou tesouro oculto era um elemento mágico. O efeito de Zelda foi imenso, deu início a uma das franquias mais queridas e duradouras na história dos videojogos, e teve um impacto significativo em quase todos os jogos de ação/aventura subsequentes. A experiência de explorar um mundo desconhecido, apenas com uma espada, um escudo e a curiosidade, atraiu jogadores de todas as partes do mundo, estabelecendo novos padrões de design e inspiração para jogos futuros.
Bubble Bobble (1986)
Em 1986, surgiu Bubble Bobble, um jogo de plataforma cativante que trouxe a diversão em grupo para o centro do palco. Os personagens principais são dois pequenos dragões encantadores, Bub e Bob, que soltam bolhas através de suas bocas. Cada etapa do jogo consiste numa única tela repleta de plataformas onde os adversários se movimentam. A meta é simples: aprisionar os adversários nas bolhas e, em seguida, estourá-las antes que escapem, enquanto se coleta frutas e bónus que caem pelo cenário. Bubble Bobble sobressaiu-se por diversas razões, possuía um modo cooperativo para dois jogadores ao mesmo tempo que era muito divertido (motivando amigos e parentes a jogarem juntos), uma música de fundo animada que cativava, além de dezenas de níveis desafiadores que exigiam estratégia e coordenação, especialmente nos níveis mais avançados. Adicionalmente, proporcionava diversos finais, dependendo da modalidade de jogo (sozinho ou em dupla), incorporando segredos (como códigos e níveis ocultos) que prolongavam a duração do jogo. O encanto visual e sonoro de Bubble Bobble, aliado à sua jogabilidade cativante, tornaram-no um dos clássicos mais amados dos videojogos dos anos 80. Bub e Bob continuam a protagonizar sequências e spin-offs, e o jogo original ainda é uma referência quando se trata de retro cooperativo.
Mega Man 2 (1988)
Lançado para a NES em 1988, destaca-se como um dos melhores jogos de ação e plataforma da década. Este segundo título da série Mega Man, desenvolvido pela Capcom, é frequentemente citado como o ponto máximo da franquia. Novamente, assumimos o controlo de Mega Man, o pequeno robô azul, numa batalha contra o maligno Dr. Wily e sua legião de Mestres dos Robôs. A estrutura do jogo era inovadora, o jogador tinha a liberdade de determinar a sequência de enfrentar os níveis, cada um focado num determinado Robot Master. Ao vencer um chefe, Mega Man recebia sua arma particular, estabelecendo uma dinâmica de "pedra, papel e tesoura", onde cada arma era particularmente eficiente contra outro chefe. Mega Man 2 aprimorou todas as características presentes no primeiro jogo, gráficos mais detalhados e coloridos, controlos precisos, um desafio equilibrado, mas desafiador, e uma banda sonora incrivelmente marcante (as músicas das fases como "Dr. "Wily's Castle" transformou-se em hinos 8-bit. O jogo recebeu elogios da crítica e dos fãs, vendendo muito além das expectativas iniciais da Capcom. A relevância está em mostrar como uma sequência pode melhorar a fórmula original e elevar o padrão de qualidade. Mega Man 2 estabeleceu o estilo de plataformas de ação na NES, deixando um legado duradouro nos jogadores que dedicaram horas a superar os seus desafios e descobrindo a melhor sequência para derrotar todos os chefes.
Super Mario Bros. 3 (1988)
No maravilhoso ano de 1988, a Nintendo disponibilizou no Japão aquele que é amplamente reconhecido como um dos melhores jogos de plataforma de todos os tempos, Super Mario Bros. Após a popularidade desse jogo, com SMB3, Shigeru Miyamoto e a sua equipa elevaram a série a um novo nível. O jogo oferecia um mapa-múndi interativo para cada área, permitindo ao jogador escolher o melhor caminho e introduzindo mini-jogos e caminhos alternativos ao longo do percurso, uma inovação em comparação aos jogos lineares anteriores. Cada etapa de Mario Bros. 3 era repleta de originalidade, apresentando temas e desafios únicos, variando de desertos a universos gigantescos onde tudo é imenso. O jogo introduziu itens icónicos como a Super Folha, que transforma Mario em um guaxinim com capacidade de voar por breves períodos, o fato de Sapo (que auxilia na natação) e até mesmo um fato de Martelo. Esses poderes introduziram elementos de estratégia e diversão ao jogo tradicional de saltar sobre adversários e reunir moedas. Super Mario Bros. 3 também se destacou pela precisão técnica, gráficos coloridos e minuciosos, sprites grandes e expressivos, além de uma banda sonora vibrante que mudava de acordo com o cenário. O entusiasmo pelo lançamento ocidental foi tão grande que o jogo foi "revelado" no filme "The Wizard" (1989) antes de ser lançado nos Estados Unidos, intensificando a expectativa. Ao chegar, rapidamente se tornou um best-seller e um marco da era 8-bit. O impacto é evidente em quase todos os jogos de plataforma subsequentes, e o jogo continua tão cativante hoje em dia quanto em 1988, evidenciando a originalidade do design de Miyamoto e a sua equipa.
Prince of Persia (1989)
Prince of Persia (1989), lançado no final da década, introduziu um elemento cinematográfico e inovador aos jogos de plataforma e aventura. Criado por Jordan Mechner para o Apple II e posteriormente transferido para diversas plataformas, Prince of Persia sobressaiu-se imediatamente pelas as suas animações incrivelmente suaves e realistas, produzidas pela técnica de rotoscopia (Mechner filmou seu irmão correndo, saltando e lutando, e depois desenhou as animações do jogo com base nesses movimentos autênticos). No jogo, o jogador assume o papel de um herói anónimo, o príncipe, que precisa escapar de uma masmorra repleta de armadilhas letais e guardas, dentro de um período determinado, a fim de resgatar a princesa das garras do vizir Jaffar. Ao contrário das plataformas habituais, caracterizadas por saltos precisos e adversários caricaturais, Prince of Persia optou por um tom mais sério e uma física mais realista, os movimentos de corrida necessitam de embalo, os saltos possuem uma inércia realista, espadas chocam-se numa batalha tática e um movimento imprudente pode disparar lâminas ou lançar o herói ao chão. Esta mistura de componentes tornou Prince of Persia um jogo desafiador e inovador. Apesar de inicialmente não ter alcançado o mesmo sucesso comercial que Mario ou Zelda, tornou-se um ícone de culto, influenciando jogos da década de 90 (como Another World e Flashback) e originando uma série de longa duração. A atmosfera tensa das masmorras e a alegria de vencer seus desafios fizeram deste título de 1989 um dos mais significativos da década.
The Secret of Monkey Island (1990)
Para encerrar em grande estilo, apesar de ter sido lançado em 1990, The Secret of Monkey Island simboliza o ponto máximo dos jogos de aventura point-and-click que surgiram na década de 80. Este jogo, criado pela LucasArts sob a direção de Ron Gilbert, elevou o nível de humor e narrativa interativa. Em Monkey Island, os jogadores acompanham as peripécias de Guybrush Threepwood, um jovem que sonha em se tornar um pirata num fictício Caribe. Guybrush empenha-se em diversos puzzles criativos e diálogos cómicos para se tornar um autêntico pirata e resgatar a governadora Elaine Marley do fantasma do pirata LeChuck. O jogo eliminou as desagradáveis "mortes súbitas" recorrentes em aventuras passadas, priorizando a experiência e o prazer da história, sem o medo de falhar irremediavelmente. Com um engenhoso sistema de provocações (os combates de espada ocorrem com trocas de insultos bem-humorados) e personagens cativantes, The Secret of Monkey Island encantou tanto a crítica quanto o público. O seu lançamento reforçou a reputação da LucasArts como pioneira do género, demonstrando que os jogos poderiam ser tão divertidos e cativantes quanto um bom filme ou livro. Até hoje, os fãs celebram as piadas e referências de Monkey Island, e a série prosseguiu com diversas continuações. Ao adicionar Monkey Island a esta lista de jogos retro, noto como ele captura o espírito inovador dos jogos dos anos 80, concluindo a época com uma pitada excepcional de humor e narrativa.
Conclusão
Explorar os melhores jogos dos anos 70 e 80 é retornar às raízes da indústria dos jogos eletrónicos e entender como a inovação daquele período estabeleceu as fundações para tudo o que se seguiu. Dos simples pixels de Pong à emocionante aventura de Zelda, cada jogo que relembramos aqui apresentou algo inédito, seja uma mecânica de jogo revolucionária, um personagem emblemático ou um avanço tecnológico notável para a época. Estes jogos antigos resistiram ao passar do tempo não só pela nostalgia que despertam, mas também porque proporcionam experiências genuinamente divertidas e cativantes, mesmo quando comparados aos padrões contemporâneos. Em Portugal, assim como globalmente, diversos destes clássicos dos jogos conquistaram fãs e serviram de inspiração para os criadores subsequentes. Atualmente, numa era de gráficos ultra-realistas e jogos online em massa, é reconfortante olhar para o passado e perceber que a essência do entretenimento eletrónico já estava a florescer há mais de quarenta anos. Seja jogando Space Invaders, comendo fantasmas em Pac-Man ou salvando princesas e reinos, estes jogos dos anos 70 e 80 ainda são celebrados. Eles remetem-nos a uma era onde tudo era inédito e demonstram que, através da criatividade e paixão, os jogos conquistaram o mundo e os nossos corações para sempre.