Tinha 12 anos quando se realizou o Itália 90, a idade ideal para se dar a atenção que um evento desta natureza merece, e mergulhar de cabeça nas emoções que só um mundial de futebol pode proporcionar.
A mascote escolhida foi um pouco menos comercial e dada a merchandising do que as suas antecessoras, como a Naranjita, mas foi de longe compensada por uma caderneta de cromos fenomenal, vendida em todos os locais possíveis e imaginários. Até podíamos encontrar à venda em Cafés normais, e com uma oferta de prémios que ia de T-shirts a bolas de futebol, passando por malas, porta-chaves e mil e uma outra coisas.
Tinha ainda a particularidade de nos cromos, os jogadores estarem em movimento, e não na simples pose “foto tipo passe”, e isso gerou no meu liceu um movimento de “trocas” que nunca antes tinha sido visto. No meu caso fiquei a dois de completar a mesma, o cromo do Maradona e do Estádio do Roma. No entanto completei a de calendários, que também tinha o seu charme, e guardei em micas próprias para isso.
Como é óbvio, com a idade que eu tinha, esta foi uma das coisas que mais prestei atenção no mundial e que mais me seduziu, mas isso não significa que dei menos atenção ao que se passava dentro do campo. Vou então relembrar um pouco do 14º mundial de futebol organizado pela Fifa.
Sim, foi o mundial onde se marcou menos golos e sim, foi aquele onde mais jogadores foram expulsos, mas ele disputou-se numa fase importante do futebol, onde as TV’s tinham um papel muito importante e esta competição soube capitalizar isso. Graças a essa pouca procura pelos golos, a Fifa passou a atribuir 3 pontos por vitória, e a criar uma regra que penalizava o atraso da bola ao guarda-redes, por isso até foi bom ele ter sido tão “mau”. Diga-se de passagem, que apesar dos poucos golos, foi palco de grandes jogos, com belas exibições de excelentes jogadores.
Foi o Mundial em que a Holanda de Van Basten, Gullit e cia desiludiu, saiu sem vencer um único jogo, em que o continente Africano deslumbrou, e conseguiu assim aumentar a quota de equipas presentes num mundial, e foi mais um em que o Brasil voltou a desiludir, falhando ficar nos 4 melhores do torneio. Apesar disso foram 4 campeões do mundo que estiveram nas meias finais, e em que a Alemanha (ainda como West Germany) conseguiu a sua terceira presença consecutiva numa final. Isto fez com que o jogo pelo 2º e 3º lugar fosse uma final de Mundial em flashback.
Este mundial prendeu a atenção de todos por ter tido uma quota grande de heróis improváveis, sendo o maior de todos o Camaronês Roger Milla, que com 38 anos deslumbrou tudo e todos, com a sua energia positiva e as suas comemorações entusiásticas depois da marcação de golos. Era apenas substituto, mas ajudou a sua equipa a chegar aos quartos de final, marcando em quase todas as partidas, inclusive no jogo contra a Inglaterra.
Na Argentina, depois do impedimento do titular Pumpido, foi o guarda redes suplente Goycochea que brilhou na campanha de uma selecção que não jogou como se esperava, mas mesmo assim conseguiu chegar a final. Aí conseguiram o infeliz recorde de ser a única equipa que não marcou um golo na final e que teve um jogador expulso.
No lado dos anfitriões foi Salvatore Schilachhi o herói, quando o veterano atacante tomou protagonismo chegando a melhor marcador da competição e ajudando a sua equipa a ficar com o terceiro lugar. Para além de heróis improváveis, existiram momentos que marcaram a história como a aposta do guarda redes Jugoslavo, Tomislav Ivkovic, com a super estrela Maradona em como defenderia o seu penalty.
A Inglaterra teve aqui a sua última grande participação num Mundial, a equipa treinada por Bobby Robson apresentou um futebol consistente onde despertava o tecnicismo de Paul Gascoine e a finalização certeira do atacante Gary Lineker. A confederação Concacaf teve na surpreendente Costa Rica uma digna representante, enquanto que a República da Irlanda deu mau nome ao futebol britânico chegando aos quartos de final com 2 golos marcados e sem uma única vitória em futebol corrido.
O Brasil de Alemão, Branco e Careca desiludiu e caiu perante a rival Argentina nos Oitavos de Final, uma triste despedida do sempre candidato ao título de campeão mundial. No cimentar de um domínio que já tinha sido evidenciado nos 3 últimos torneios, os Alemães chegaram à vitória facilmente, sem perder um único jogo e misturando na perfeição a regularidade e eficiência Germânica, com alguma qualidade a nível técnico.
Matthaus, Voller, Klinsmann, Brehmer e Moller foram alguns dos protagonistas numa selecção que mereceu a vitória e cativou todo o mundo.
Noutra recordação juvenil, as máquinas do jogo Itália 90 foram uma dor de cabeça para todos os pais já que era raro o café que não a tinha e assim as moedas de 25 escudos choviam para que pais e filhos jogassem em conjunto um jogo que não primava em nada no factor gráfico mas sim no factor divertimento. Eis o conjunto de jogos desse mundial com links para a informação relativa a cada jogo.
Quatro anos mais tarde veio então o melhor mundial de sempre, mas essa é uma história para outra altura.
2 Comments
LOL
Este foi um post intenso!!!
Até o calendário tens!!!
😀
Lembro-me bem desse mundial, foi um dos que me ficou na memória.
😉
Abraço
A mim também porque foi quando comecei a ligar mais ao futebol 😀 e aquela caderneta foi mítica.