O Casarão foi a segunda telenovela Brasileira a passar no nosso país, não teve o mesmo sucesso de Gabriela, mas nem por isso não deixou de ter alguns fãs, que ainda hoje se recordam de algumas situações que por lá aconteceram.
Depois do sucesso que a Gabriela teve no nosso país, a RTP decide transmitir logo no começo de 1978 a sua sucessora, sendo escolhida a novela de Lauro César Muniz, O Casarão. Tendo sido transmitida dois anos antes no Brasil, era uma trama mais complicada, contando a história de três gerações que se estabeleceram no norte de São Paulo, à época da grande imigração para as terras férteis do café. Um casarão situa o foco da narrativa. Desde a sua construção no ano de 1900 até o ano de 1976, O Casarão conta uma saga familiar. A ação se passa em três épocas diferentes, quais sejam, de 1900 a 1910, de 1926 a 1936 e, enfim, no ano de 1976, o período de difusão da telenovela.
A terra e a mulher são os pontos fundamentais da trama, aliás Manuel Luís Goucha disse uma vez ser a sua novela favorita, por causa de falar da emancipação da mulher e que tem belas recordações sempre que ouve a voz de Elis Regina cantando o tema da telenovela. Aliás a cantora esteve presente no Festival da canção desse ano, interpretando Fascinação para gáudio de todos.
Longe do impacto que teve Gabriela, muitos louvavam na mesma a qualidade da trama desta sua sucessora, e até se pode dizer que foi mais bem recebida no nosso país do que no Brasil. Talvez por nesta se encontrar um núcleo de actores Portugueses quem sabe. Esses foram apadrinhados por Raul Solnado (na altura muito popular por lá) e assim Laura Soveral, Tony Correia e a Moçambicana Ana Maria Grova formavam o núcleo nacional da trama.
No primeiro período da história (1900-1910) temos Deodato Leme (Oswaldo Loureiro) que é o chefe político do município de Tangará, situado no interior do Estado de São Paulo. É nesta época que é erguido o casarão da família, onde tudo se vai desenrolar, e mostra também como é um dos principais impulsionadores para que o caminho-de-ferro chegue até à região
Sua mulher é Olinda (Myrian Pires), que aguenta em silêncio e de uma forma submissa a frieza e os ciúmes doentios do marido. Maria do Carmo (Analu Prestes) é a filha do casal que, apesar de apaixonada pelo imigrante português Jacinto (Tony Correia), se casa com Eugénio (Edson França), tendo tido uma filha chamada Carolina.
No segundo período (1926-1936) vemos como o progresso chega à cidade, com Eugénio como o seu líder político. Jacinto e Francisca (Laura Soveral) são pais de Atílio (Denis Carvalho), com quem Maria do Carmo pretende casar Carolina (Sandra Barsotti), vendo nesta união a realização das suas próprias frustrações.
O problema é que a jovem gosta de João Maciel (Gracindo Jr.), filho adoptivo do capataz Afonso Estradas (Lutero Luiz). João Maciel recebe a incumbência de esculpir uma santa para a capela da Fazenda Água Santa, promessa que Olinda fizera para o restabelecimento de Maria do Carmo, que se encontrava gravemente doente. O modelo para o rosto da santa será precisamente Carolina. João Maciel apaixona-se e, como forma de homenagem à amada, transforma a estátua numa escultura de Vénus, a deusa da beleza e do amor.
Os dois fazem planos de deixar a cidade e partir para São Paulo, onde pretendem iniciar uma vida em comum. Mas João acaba por partir sozinho e, para evitar problemas, enterra o corpo da estátua, colocando a cabeça num pedestal coberto com um véu. Após uma longa ausência, regressa a Tangará e fica a saber que Carolina está noiva de Atílio, com quem acaba por se casar.
Por fim vemos como as coisas estão em 1976, mostrando os três filhos daquele casamento infeliz: Violeta (Aracy Balabanian), Alice (Daisy Lucidi) e Eduardo (Marcos Paulo). Atílio apresenta já alguns sinais de senilidade e passa o tempo todo mexendo uma banheira cheia de merda, tentando criar ouro com isso, uma das cenas mais marcantes de toda a novela e aquela que muitos lembram nos dias de hoje.
João Maciel tornou-se um famoso escultor e foi casado cinco vezes. Carolina (que ainda o ama), descobre que João teve um ataque cardíaco e escreve-lhe. João faz uma visita oficial à cidade e fica hospedado no casarão. Pouco a pouco, renasce o clima de romance entre os dois.
A morte de Atílio acaba por ser um passo decisivo no tão adiado reencontro entre João Maciel e Carolina. Já o casarão, que outrora representara o poder de Deodato Leme, torna-se um lugar decadente e destinado ao desaparecimento, ironicamente, com o prolongamento da estrada de ferro.
Uma trama cheia de segundos sentidos e pequenos momentos que o público por vezes não percebia, fazendo com que ela fosse mal recebida e mal amada. No entanto trata-se de um excelente enredo que deixou a sua marca na história da televisão.