Um daqueles livros que marca para sempre quem o lê e uma daquelas obras que se mantém sempre actual, quer pelo tema abordado, quer pela qualidade da narrativa. Lord of the Flies teve uma influência tão forte em tantas pessoas, que se tornou parte da cultura popular, tendo músicas e filmes baseados nele.
Lord of the Flies (Deus das Moscas em Portugal e Senhor das Moscas no Brasil) foi um romance do escritor inglês William Golding, galardoado com um Nobel da Literartura, lançado em Dezembro de 1954. Não teve sucesso comercial, mas aos poucos foi ganhando estatuto de culto e chegou inclusive a ser uma obra recomendada para leitura em muitas escolas.
Com isso passou a ter ainda mais fãs, já que o público adolescente era o ideal para esta alegoria de religião e filosofia, tendo como protagonistas um grupo de crianças que naufraga numa ilha deserta. Teve duas versões cinematográficas, uma em 1963 e a outra em 1990, para além de ser referenciado em muitas séries ao longo das décadas. Muitos consideraram a série Lost como uma que tinha muitas semelhanças com esta obra literária, com o monstro, os grupos divididos e o aspecto céu/purgatório que esteve sempre presente no programa.
Bad Religion, Offspring e Iron Maiden são algumas bandas que produziram músicas em homenagem ao livro, o que é de aplaudir, quando o livro tenta sempre mostrar a selvajaria do ser humano, a maldade inerente em nós e como isso tudo pode levar a uma estupidez colectiva. Uma das coisas que mais gostei na obra era todo o simbolismo que podíamos tirar dos diversos factos apresentados, podia ir desde a religião à política, mostrando várias decisões que podiam, e deviam, ser discutidas até a exaustão.
A divisão dos grupos mostra as diferentes vertentes habituais na política, o protagonista Ralph tentava sempre chamar todos à razão, agindo de forma democrática, enquanto que um deles, Jack, tentava dominar a opinião de todos de uma forma quase fascista, e o grupo que ele organiza como caçadores pode ser encarado como o exército. A elegoria mais sobrenatural começa logo com o naufrágio na ilha, que é descrita como sendo paradisíaca e por isso podendo ser encarada como o céu, ou o jardim de éden mais propriamente, já que surge um bicho que traz sentimentos malignos ao grupo.
O facto de serem apenas crianças atinge-nos mais, ver a maldade que reside nelas e como se entregam à mesma, já que no começo não há uma simples divisão entre heróis e vilões. Jack sabe usar o bicho como forma de unir todos sobre um receio em comum, algo usado por políticos ainda nos dias de hoje, e outros membros ganham algum destaque, como Simon, que com as suas visões e diálogos com o porco mostra-nos um lado mais hardcore da obra, enquanto que Piggy com os seus óculos, mostrava a razão e a habilidade de ver as coisas com clareza.
O desenvolvimento das personagens é o melhor do livro, uma pena não se ter prolongado mais, havia espaço para isso sem se tornar algo maçador. O final chega de uma forma algo abrupta, mas não desilude e penso que vale bem a pena a sua leitura. Caso opem pelos filmes, vejam a versão de 1963, muito mais fiel ao espírito da obra.
“Kill the pig! Spill his blood! Cut his throat!”