O 3-D está muito na moda agora, mas nos anos 80 já havia filmes neste formato, e a RTP decidiu no começo dessa década fazer um grande alarido em torno disso, transmitindo o filme Monstro da Lagoa Negra. A campanha publicitária foi intensa, e todos correram aos quiosques e papelarias para conseguirem os óculos que lhes iria possibilitar ver este marco cinematográfico.
Creature from the Black Lagoon (O Monstro da Lagoa Negra) é um filme de 1954, filmado em 3-D (aproveitando a febre que havia no começo dos anos 50 em toda a América) e obrigando a usar aqueles óculos de cartão com pedaços de celofane vermelho e verde no lugar de “lentes”. Realizado por Jack Arnold e escrito por Harry Essex e Arthur A. Ross, tornou-se um objecto de culto dando origem a sequelas e a que o monstro se tornasse parte da cultura popular e cinematográfica.
Um monstro anfíbio que consegue sair debaixo de água e consegue andar pela terra provocando o terror entre todos, em especial o público feminino, com o seu aspecto de homem-peixe com guelras e membranas salientes. Ricou Browning era o actor nas cenas subaquáticas e Ben Chapman nas cenas em terra, mostrando um sobrevivente de outras eras que aterroriza uma equipa que explorava a Amazónia e deu assim de caras com este “monstro”.
Como tudo chegava atrasado a Portugal, foi só no começo da década de 80 que isto chegou com toda a pompa e circunstância ao nosso país, com a RTP a anunciar que ia transmitir esta maravilha cinematográfica em horário nobre e possibilitando assim a todos verem um filme em 3-D.
A publicidade aos óculos era enorme e todos sentiram necessidade de ter este objecto, correndo até às papelarias e quiosques e gastar uma boa massa para ter um pedaço de hastes em papelão com dois pedaços de celofane azuis e vermelhos a fazerem de lentes. Com o apoio da Radiola, aproveitou-se a coisa e fez-se um sorteio de televisores a cores para aguçar mais ainda o interessa das pessoas.
Logicamente que foi uma enorme desilusão, quer pelo filme em si, quer pela “tecnologia” do 3-D que era quase nula e só deu foi dores de cabeça às pessoas que ficaram acordadas à espera que isto começasse. Uma daquelas febres que não durou quase nada, mas que moveu um país que se dividiu entre os que foram comprar e aqueles que se deram ao trabalho de fabricar uns óculos em casa para poderem visionar esta maravilha do cinema.